Por Natasha Doff e Ksenia Galouchko.
A votação da Grã-Bretanha para sair da União Europeia tem virado de cabeça para baixo as percepções de risco político global.
O novo governo do Brasil e o isolamento da Rússia representam para o maior gestor de ativos da Europa uma oportunidade de compra, enquanto o caos político corroe todo o status de tradicional paraíso econômico desse continente desenvolvido. Mesmo antes da votação do Brexit, oscilações de preços para títulos nos países desenvolvidos eclipsavam aqueles dos pares de menor desenvolvimento, expondo os investidores a riscos maiores.
“Você pode com certeza argumentar que alguns mercados emergentes agora estão agora mais seguros que certas partes do mundo desenvolvido”, disse Sergei Strigo, Chefe de Dívida de Mercados Emergentes da Amundi Asset Management, em Londres, a maior empresa de investimento da Europa com $1 trilhão sob gestão, que tinha se posicionado a favor do abandono do Reino Unido da União Europeia.
Strigo está considerando adicionar mais títulos de moedas da Rússia e do Brasil para a sua carteira, já lotada de títulos da da Argentina e do México. E ele não é o único. Enquanto os mercados globais despencaram em 24 de junho com os resultados do referendo inglês, o BNP Paribas dispararam sua exposição à Rússia, Colômbia e África do Sul através de swaps de crédito padrão.
Os analistas do Société Générale, em nota, defenderam no dia 27 de Junho a moeda local de Moscou pelo seu “brilho de paraíso”, da mesma forma que as ações negociadas em Joanesburgo, na semana do dia 20-24 de Junho, atrairam o maior número de entradas desde março de 2009. No mesmo período, investidores colocaram US$1,75 bilhões nos ETFs americanos que investem em dívida e ações de mercados emergentes – o maior em três meses, segundo dados compilados pela Bloomberg.
A volatilidade na negociação de ações apresentou diferentes reações. A volatilidade mensal nos EUA, na Europa e no Reino Unido dispararam após a votação e permanecem acima do final do primeiro trimestre. A reação dos traders de ações no Brasil, Rússia, Índia e China, por sua vez, é bastante serena, com níveis de volatilidade mensal praticamente imóveis, deixando os gráficos para baixo,quase planos, a partir de 31 de Março.
“É melhor ficar longe de ativos europeus devido à incerteza, e vale a pena olhar para mercados em desenvolvimento, onde a Rússia e o rublo parecem bastante atraentes”, disse Yury Tulinov, chefe de pesquisa da Rosbank em Moscou. “Em um momento em que a integração europeia está se desfazendo, uma Rússia relativamente isolada parece um bom refúgio para os investidores”.
As sanções dos EUA e da UE contra a Rússia impostas há dois anos permitiu a separação dos laços comerciais com a Europa, que estão sacudindo os mercados desenvolvidos. As revisões políticas no Brasil e na Argentina impulsionado por ex-banqueiros de Wall Street em postos governamentais estão reconquistar os investidores.
“Ironicamente, as sanções têm ajudado a proteger a Rússia”, disse Jan Dehn, chefe de pesquisa da Ashmore, que administra US$ 51 bilhões em ativos de mercados emergentes. “A Rússia, de fato, têm sido obrigada a não confiar em bancos europeus ou norte-americanos, por isso acaba relativamente isolada.”