Por Julia Leite e Paula Sambo.
O rali da melhor moeda do mundo perdeu a magia.
O real vem caindo nas últimas semanas e atualmente se mantém por pouco como moeda de melhor desempenho em 2016. Os pessimistas ressurgem no momento em que o Congresso fraturado, a rivalidade entre os políticos e a preocupação com a corrupção diminuem as esperanças de que o presidente Michel Temer conseguirá levar adiante reformas para reforçar o orçamento, restaurar a confiança empresarial e tirar o país de sua recessão mais profunda em um século.
Não era para ser assim. A moeda teve uma valorização de 23 por cento no primeiro semestre do ano com as apostas de que a então presidente Dilma Rousseff sofreria impeachment e que um novo governo colocaria o país novamente no caminho. Mas depois que o impeachment passou da ilusão à realidade — e Dilma foi cassada oficialmente no mês passado –, os primeiros tropeços do novo governo e a perspectiva sombria para as medidas legislativas derrubaram o real ainda mais, transformando-o na moeda com o segundo pior desempenho da América Latina desde que atingiu o maior patamar em 13 meses, no dia 10 de agosto.
“O mercado foi excessivamente otimista em relação às consequências da remoção de Dilma”, disse Arnaud Masset, analista do Swissquote Bank em Gland, Suíça, e um dos cinco melhores analistas do real do último trimestre. “Do lado dos dados nada mudou e o novo governo apenas herdará os desafios do anterior”.
Encolhimento da economia
Esses desafios incluem uma economia que deverá registrar uma contração de 3,4 por cento neste ano após encolher 3,8 por cento em 2015, uma inflação que está acima do ponto médio da faixa meta do Banco Central há seis anos e um desemprego recorde. A projeção é que o crescimento retorne no ano que vem e os traders de bonds estão apostando que a inflação já atingiu o pico, mas os problemas fundamentais que colocaram o Brasil nessa situação continuam existindo, nomeadamente os preços mais baixos das commodities, um governo fortemente envolvido com a economia e gastos públicos que excedem as receitas.
No Brasil, os investidores ampliaram as apostas de queda contra o real para US$ 17 bilhões. É menos da metade do pico atingido em maio do ano passado, mas é mais do que os US$ 13,9 bilhões do início deste mês.
“Seria fantasioso esperar que o real continue se valorizando no mesmo ritmo do período de janeiro a agosto”, disse Per Hammarlund, estrategista-chefe para mercados emergentes do SEB em Estocolmo, que previu a valorização do real no início do ano e projeta que a moeda estará em R$ 3,25 por dólar em meados de 2017. “Uma forte queda a partir de agora provavelmente será temporária porque a fraqueza provavelmente levará os parlamentares a respaldarem o programa de reforma do governo, mesmo que tentem diluí-lo um pouco”.
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