Por Enda Curran e Carolina Millan com a colaboração de Walter Brandimarte, Olga Tanas, Thomas Kutty Abraham, Andrew Mayeda e Catherine Bosley.
A elevação gradual da taxa básica de juros nos EUA não é responsável por qualquer abalo nas economias emergentes, que estão bem posicionadas para digerir o aperto na política monetária pelo Federal Reserve, afirmou o presidente da instituição, Jerome Powell.
Em um discurso argumentando que as decisões dos EUA não são o principal determinante dos fluxos de capital para países em desenvolvimento, o comandante do banco central americano afirmou que a influência do Fed sobre as condições financeiras globais não deve ser superestimada, embora tenha sido responsabilizada cinco anos atrás pelo pânico nos mercados que ficou conhecido como “taper tantrum”.
“Há bons motivos para se pensar que a normalização da política monetária em economias avançadas deve continuar se mostrando administrável em economias emergentes”, afirmou Powell, nesta terça-feira, durante uma conferência em Zurique organizada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Nacional da Suíça. “Os mercados não devem se surpreender com nossas ações se a economia evoluir de acordo com as expectativas.”
Os comentários chegam em um momento de apostas contra os ativos emergentes devido a preocupações relativas às medidas do Fed. O dólar disparou em relação à maioria das moedas de nações em desenvolvimento no último mês.
Colocações de dívidas por países como Rússia e Argentina foram canceladas ou adiadas recentemente porque potenciais interessados – que ficaram mais seletivos e exigentes diante da alta de juros nos EUA – se mostraram hesitantes com o quadro de inflação e déficits orçamentários maiores.
As autoridades começaram a tomar providências. O banco central argentino elevou juros três vezes para 40 por cento para conter a desvalorização do peso. A Rússia interrompeu o processo de flexibilização monetária. A Turquia tenta diminuir o déficit em conta corrente. A Indonésia está queimando reservas para sustentar a taxa de câmbio.
A Bloomberg Economics elaborou um ranking das 15 grandes nações emergentes consideradas mais vulneráveis à alta do preço do petróleo, aos juros nos EUA e ao protecionismo. A África do Sul é a que mais tem a perder, devido ao déficit em conta corrente e às importações de petróleo. Grande exportadora, a Tailândia também está na corda bamba, devido à exposição ao protecionismo e ao fato de importar petróleo. No caso da Rússia, a resistência vem da posição como produtora de petróleo. No Brasil, a limitada dependência da economia em relação às exportações também proporciona resistência.
Ainda em Zurique, o gerente-geral do Banco de Compensações Internacionais (BIS), Agustín Carstens, recomendou que os países ampliem suas reservas internacionais como forma de proteção em caso de reviravolta nos mercados.
A pressão é amplificada pelo aumento das dívidas denominadas em dólares por países em desenvolvimento. As emissões de títulos de dívida no exterior subiram 22 por cento em 2017, segundo o BIS. Um quinto dos países emergentes e de renda média tem dívida superior a 70 por cento do PIB, sendo 84 por cento no Brasil e 70,2 por cento na Índia, de acordo com o FMI.
Os fluxos de capital para mercados emergentes são muito dependentes do apetite dos investidores por risco, disse o presidente do banco central chileno, Mario Marcel, durante a conferência em Zurique. “Construir um regime de câmbio flutuante confiável e capaz de amortecer o impacto de choques financeiros e de commodities sobre a economia doméstica requer muito mais do que coragem ou decisões estatutárias – é preciso ter suporte de uma arquitetura financeira e institucional sofisticada”, ele disse.
Uma elevação adicional sustentada dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano causaria mais pressão sobre as moedas e saída de investidores estrangeiros. O FMI alertou em abril que os riscos à estabilidade financeira global aumentaram nos últimos seis meses.
“Os bancos centrais talvez precisem responder com acréscimos nos juros se as perdas se intensificarem”, disse Chua Hak Bin, economista sênior da Maybank Kim Eng Research, em Cingapura.
Entre as nações mais vulneráveis, segundo o Instituto de Finanças Internacionais, estão Ucrânia, China, Argentina, África do Sul e Turquia.
As condições variam de país para país. Rússia, República Checa, Colômbia, Brasil e Filipinas correm aparentemente menos riscos, de acordo com o instituto.
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