Perspectivas do mercado brasileiro para 2017

Após um ano marcado por turbulências internas e externas, mas ganhos excepcionais nos mercados brasileiros, 2017 começa com os investidores se perguntando sobre a possibilidade de extensão dessa tendência em um ambiente de grande incerteza quanto ao direcionamento econômico e político das maiores economias do mundo.

Para ajudar profissionais do mercado financeiro a embasar suas opiniões e estratégias, a Bloomberg ofereceu o webinar “Perspectivas do Mercado Brasileiro para 2017: Podem Trump, OPEC, FED e China serem mais impactantes que o cenário doméstico?”, em 31 de janeiro, com a participação de especialistas da empresa das áreas de macroeconomia, renda fixa, ações e commodities.

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Variável determinante para o desempenho dos mercados no Brasil e outros países emergentes, o dólar terá seu rumo definido pela evolução das políticas adotadas pelo governo de Donald Trump, que chegou à Casa Branca prometendo expansão fiscal, gastos em infraestrutura, redução de impostos para incentivar a indústria local e menos regulamentação.

Assim como o início do ciclo de elevação da taxa básica de juros pelo Federal Reserve, essas propostas têm sustentado o dólar porque melhoram a perspectiva para o PIB, a confiança do consumidor e o ambiente de negócios. No entanto, para o especialista em renda fixa e moedas da Bloomberg Sandro Amorim, a execução dessas medidas será um teste para a moeda americana, considerando que o novo presidente tem seu capital político dilapidado pela reversão de algumas decisões logo no início do mandato.

A postura do Fed também pode abalar o câmbio se a subida dos juros acontecer cedo demais e prejudicar o crescimento da economia, afirmou Amorim, acrescentando a possibilidade de aumento indesejável dos preços devido às políticas fiscais e protecionistas de caráter inflacionário que são defendidas por Trump. “Isso pode trazer a inflação antes de o crescimento vir de fato”, disse Amorim.

Quanto às variáveis domésticas, o real foi a moeda importante de melhor desempenho em 2016, com valorização de 22%, embalado pela alta de preços das commodities, pela resolução do quadro político e consequente recuo dos prêmios de risco, e pelo avanço de reformas estruturais.

De acordo com cálculos da Bloomberg Intelligence, o câmbio deveria caminhar para 4,00 ou 4,10 reais por dólar, mas encerrou 2016 em 3,25 e agora se encontra próximo de 3,15. “Isso mostra que o menor risco politico mitigou a deterioração fiscal do Brasil e o lado externo”, disse Marco Maciel, economista sênior da Bloomberg Intelligence para Brasil.

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Em 2017, serão determinantes para o real a evolução das reformas estruturais, os fluxos estrangeiros para os mercados de capitais, a estabilidade política, os índices de inflação e a postura do Banco Central.

A Bloomberg Intelligence projeta que a autoridade monetária reduzirá os juros para cerca de 10% até o final do ano, acima do que espera o consenso do mercado. “O problema fiscal atrapalha o BC no controle da inflação”, disse Maciel. “A Selic em 9% levaria a inflação a 5% no ano que vem” — portanto acima da meta de 4,5% perseguida pelo BC. Para Maciel, o câmbio oscilará entre 3,20 e 3,25 reais por dólar neste ano.

No mercado de renda fixa, a evolução das reformas estruturais e a queda da inflação e da taxa Selic abrem a perspectiva de o Brasil recuperar o grau de investimento e aumentar o retorno dos títulos. E isso após um ano em que a dívida brasileira em dólar proporcionou retorno de 26%.

Contudo, o risco implícito no crédito para as empresas brasileiras permanece elevado. Investidores e bancos estão mais exigentes diante dos 714 pedidos de recuperação judicial no ano passado, número 56% maior do que o recorde anterior, atingido em 2015.

Apesar da melhora do panorama econômico, o risco geral de inadimplência permanece acima da média dos últimos 365 dias e, para Alexandre de Mello, especialista de renda fixa e gerenciamento de riscos da Bloomberg, pode haver “oportunidade de entrada” em setores específicos com melhores perspectivas — como o de commodities — para capturar o ajuste na percepção de risco.

Os preços das commodities também serão decisivos para a Bovespa. Neste caso, a referência a ser monitorada é o petróleo. “O petróleo tem impacto sobre todas as outras commodities”, afirmou Julio Aparecido, especialista em commodities da Bloomberg. Segundo ele, após o anúncio de corte da produção por integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), a cotação do barril será determinada pela reação dos produtores dos EUA ao espaço deixado pelo cartel. No caso do minério de ferro, os fatores determinantes do preço serão a desvalorização do yuan e o ritmo de acúmulo de estoques pelas siderúrgicas chinesas. Em se tratando da soja, a grande dúvida é a safra que cresce agora na Argentina, afetada por chuvas no período de plantio.

Mais do que a influência exercida pelas commodities, a bolsa brasileira precisará acompanhar as oscilações do mercado acionário dos EUA, onde se questiona a extensão da fase de ganhos que já dura uma década.

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“Existe muita conversa sobre se estamos nos aproximando do mercado de queda e se isso é risco para a bolsa brasileira como um todo”, disse Roger Oey, especialista sênior em renda variável da Bloomberg. Conforme ele apontou no gráfico acima, “quando a queda vem, vem muito forte, como mostrou a bolha da internet, quando a bolsa caiu quase 50%, e no caso do subprime, quando houve queda de 57% em período relativamente curto”.

Por outro lado, a concretização de promessas de campanha de Trump, como desregulamentação, investimentos em infraestrutura e redução de impostos, pode tornar o mercado americano ainda mais atraente e desviar fluxos de investimento de países como o Brasil.

Também existe risco de volatilidade adicional nas bolsas com o calendário político na Europa, que inclui eleições na Alemanha e França e o início do processo de saída do Reino Unido da União Europeia, em março.

“Nossa salvação na bolsa brasileira são as reformas e o mercado de commodities melhorar mais”, completou Oey.

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