Por Sabrina Valle.
A Petrobras tem condições de pagar os R$ 63 bilhões do bônus de assinatura do leilão da cessão onerosa neste ano com caixa, além do crédito do governo, e desenvolver os campos de Búzios e Itapu sem comprometer sua disciplina de capital no curto e no longo prazos, disse o presidente da empresa, Roberto Castello Branco, em entrevista.
A empresa foi protagonista ao arrematar os únicos dois blocos vendidos no leilão da quarta-feira. Ao contrário do esperado, a presença de estrangeiros foi pequena e se limitou aos 10% de Búzios comprados pelas chinesas Cnooc e CNODC, em consórcio com a estatal brasileira.
Em meio aos sinais de desistência de parceiros, Castello Branco disse que na semana passada consultou e recebeu o aval da diretora financeira da empresa, Andrea Almeida, para seguirem sozinhos ao leilão da cessão onerosa — como se mostrou necessário.
“Fui para casa e pensei: ‘que venham los toros’”, disse. “Nós não desistimos de nenhum parceiro, eles que desistiram de nós”, afirmou em entrevista na sede da empresa, no Rio de Janeiro.
Para Castello Branco, as petroleiras estrangeiras recuaram porque havia uma necessidade de comprometimento de capital muito alta no leilão. Além disso, questões regulatórias criavam incertezas, como o prazo para a aprovação do plano de desenvolvimento dos campos. “O modelo herdado é muito ruim.”
Dever de casa
Segundo ele, a Petrobras só conseguiu fazer uma oferta por 90% de Búzios e por Itapu porque havia realizado o dever de casa, com a melhora do perfil financeiro.
Com o resultado do leilão, um ponto de atenção dos investidores é saber como fica o endividamento da petroleira, que está num processo de reduzir suas obrigações financeiras.
Castello Branco afirma que a estatal não precisará emitir dívida no mercado para pagar o bônus de assinatura ou para investir em Búzios. A companhia usará sobra de caixa e o crédito de R$ 34,1 bilhões a receber do governo para pagar os blocos em 27 de dezembro.
A Petrobras também vai quitar neste ano uma dívida de US$ 5 bilhões com o China Development Bank (CDB), um empréstimo considerado caro.
A meta de desalavangem de dívida equivalente a 1,5x o Ebitda para o próximo ano está mantida e o plano de rolagem não se altera, segundo o presidente da estatal.
Ele também disse que a distribuição de dividendos da estatal não será afetada. Os investimentos estão atualmente ao redor de US$ 11 bilhões por ano e devem permanecer nesse patamar no próximo plano de negócios, a ser anunciado em 28 de novembro.
Novas ofertas
A Petrobras considera fazer ofertas para os outros dois campos que não foram vendidos na quarta-feira, Atapu e Sépia, quando o governo fizer novo leilão no próximo ano. Mas, essa decisão dependerá das condições da venda. Desta vez, a Petrobras considerou que o valor dos dois blocos estava elevado, de acordo com Castello Branco.
Os parceiros chineses terão a opção de dobrar sua fatia em Búzios de 5% para 10% cada, ou 20% no total das duas empresas asiáticas. Eles terão 18 meses para chegar a um acordo sobre o valor da compensação à Petrobras pelos investimentos já realizados no bloco.
Os chineses também terão a opção de sair do negócio, mas apenas se as autoridades não tiverem aprovado o plano de desenvolvimento, o que não é esperado que aconteça, disse Castello Branco.
Nesta quinta-feira, a Petrobras ainda levou o único dos cinco blocos vendidos na 6ª rodada de partilha do pré-sal. Aram, com bônus de assinatura fixado em R$ 5,05 bi, foi arrematado por consórcio da estatal com a chinesa CNODC.