Pílula da libido feminina é sintoma dos problemas da Valeant

Por Cynthia Koons.

As dificuldades da Valeant Pharmaceuticals International para aumentar as vendas de sua nova pílula para libido feminina são uma amostra dos problemas da fabricante de medicamentos.

A distribuidora de remédios por encomenda que poderia ter ajudado está fora de cena após um escândalo que obrigou a Valeant a romper o relacionamento, em outubro. As operadoras de seguro-saúde estão negando ou limitando cobertura à pílula diária, chamada Addyi, e gestores de benefícios de saúde de grandes empresas estão barrando o medicamento. O resultado: muitas receitas escritas por médicos não estão sendo processadas.

“Claramente temos que demonstrar nossa capacidade de sucesso e ainda não o fizemos”, disse o CEO Mike Pearson, em teleconferência na terça-feira. “Depende de nós e estamos trabalhando duro para chegar lá”.

Vender o Addyi — o primeiro medicamento desse tipo para mulheres — é apenas um dos numerosos desafios que a Valeant tem pela frente. Investidores perderam a fé na atribulada companhia e as ações e os bonds tiveram a maior queda já registrada na terça-feira. A Valeant fechou acordo para compra da fabricante do Addyi, a Sprout Pharmaceuticals, por US$ 1 bilhão em agosto, em um momento em que a estratégia de Pearson de crescimento por meio de aquisições e aumentos de preços era apoiada por Wall Street. Refletindo a drástica desvalorização da Valeant nos últimos seis meses, o Addyi deixou de ser uma aposta ousada e passou a ser um negócio problemático.

“Não sabemos o potencial do Addyi, mas não achamos que será um sucesso de vendas”, disse Ram Selvaraju, analista da Rodman & Renshaw que recomenda a compra das ações da Valeant. “Trata-se de um equívoco caro”.

Estreia desafiadora

A Valeant disse que as vendas do Addyi estão crescendo após uma estreia desafiadora, que a empresa atribui em parte ao fato de existir confusão em relação à especialidade médica que prescreveria o tratamento. Além disso, os gestores de benefícios de saúde a funcionários demoram seis a nove meses para analisar qualquer novo medicamento. Atualmente, cerca de 57 por cento das prescrições escritas estão sendo processadas e pagas, contra 25 por cento a 30 por cento no quarto trimestre, disse Anne Whitaker, presidente do conselho do grupo da empresa, na teleconferência.

A transação envolvendo o Addyi — dias após sua aprovação pela Agência de Alimentos e Medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) — foi uma aposta arriscada desde o início. O tratamento, que foi rejeitado duas vezes antes da aprovação, traz um quadro com alerta, o mais rigoroso da FDA, e as mulheres têm que assinar um termo de reconhecimento dos riscos. Um estudo holandês que combinou oito testes clínicos envolvendo quase 6.000 mulheres, divulgado em fevereiro, mostrou que o Addyi ofereceu a elas uma experiência sexual satisfatória adicional por mês, embora trazendo como efeitos colaterais tonturas, sonolência, náuseas e fadiga.

Depois vem a questão do preço. Antes da venda à Valeant, a CEO da Sprout, Cindy Whitehead, disse que a empresa fixaria o preço do Addyi em cerca de US$ 350 a US$ 400 por mês antes da cobertura do seguro médico. Whitehead inicialmente concordou em entrar na Valeant e liderar a divisão, mas deixou a empresa poucos meses depois. O Addyi, que diferentemente dos medicamentos de disfunção sexual masculina é uma pílula diária, atualmente tem preço de venda de US$ 800 a US$ 850 por 30 comprimidos, segundo o site de comparação de preços GoodRx.

Diferentemente das disfunções sexuais masculinas, o baixo desejo sexual nas mulheres não é uma desordem médica amplamente reconhecida. A Valeant disse que está trabalhando para educar médicos, farmacêuticos e agentes de saúde sobre o transtorno do desejo sexual hipoativo, conhecido como TDSH, e espera uma maior cobertura dos planos de saúde no segundo semestre.

“Quando aumentar o reconhecimento em relação ao TDSH como condição médica importante e bem validada, veremos as preocupações em relação aos reembolsos diminuírem”, disse Tracy Valorie, porta-voz da Valeant. “Estamos abrindo um novo caminho para essas mulheres e isso nunca é um processo da noite para o dia”.

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