Pimco aconselha investir em países que seguem Sonho Australiano

Por Ben Bartenstein.

O movimento de um ano e meio de disparada dos mercados emergentes vai terminar eventualmente e a Pacific Investment Management Co. (Pimco) tem conselhos para o investidor que quiser estar bem posicionado quando isso acontecer.

A segunda maior gestora de renda fixa do mundo recomenda que os clientes sigam o “Sonho Australiano”, que resume a situação de países com instituições fortes, desequilíbrios externos moderados e expectativas de inflação contidas. Em países que cumprirem esses critérios, como Índia, Indonésia e Polônia, uma desvalorização cambial não se traduz em grandes perdas nos títulos denominados em moeda local.

A ideia é que, em tempos de vacas magras, os investidores evitem países como Brasil, Turquia e Colômbia — considerados especialmente vulneráveis a um dólar mais forte, ao aumento dos juros nos EUA e à intensificação do protecionismo nas trocas comerciais. Os países suscetíveis eram conhecidos como os “Cinco Frágeis”, mas o número está diminuindo à medida que as economias emergentes ficam mais parecidas com as desenvolvidas, segundo Gene Frieda, o estrategista global da Pimco, que supervisiona US$ 1,5 trilhão em ativos.

“Há um contingente muito maior de economias de mercados emergentes vivendo hoje o Sonho Australiano”, afirmou o estrategista, que trabalha em Londres. “Suas moedas têm capacidade de se depreciar sem implodir os mercados de títulos.”

Por ora, a Pimco ainda considera os mercados emergentes a “classe mais barata de ativos”, beneficiando instrumentos que não se encaixam no Sonho Australiano, como os títulos negociados no mercado brasileiro. Mas Frieda entende que será cada vez mais importante distinguir as nações em desenvolvimento à medida que o movimento de valorização perde folego.

Quando Ricardo Hausmann, economista da Universidade Harvard, descreveu pela primeira vez o conceito de Sonho Australiano durante uma conferência em 1999, a situação dos países emergentes era crítica. Ele visualizava um mundo no qual choques cambiais em países em desenvolvimento não provocariam a fuga em massa de investidores dos mercados de renda fixa.

A Austrália se encaixa seguramente na categoria de país desenvolvido, mas serviu como modelo por causa da taxa de câmbio relativamente volátil e dos títulos mais estáveis.

A expressão Sonho Australiano não se popularizou nos anos seguintes, mas o Goldman Sachs Group ressuscitou o termo em um relatório enviado a clientes em 2014.

De modo geral, nações do Sonho Australiano têm governos e bancos centrais previsíveis, saldos externos que estão melhorando e maior capacidade de suportar choques comerciais, explicou Andrew Keirle, que supervisiona mais de US$ 1 bilhão na divisão de renda fixa da T. Rowe Price.

Foi o que ocorreu no último trimestre do ano passado, quando as moedas de Hungria, Romênia e Polônia perderam de 6,8 por cento a 8,7 por cento em relação ao dólar, mas os índices que acompanham os títulos de dívida negociados localmente recuaram bem menos.

O fato de investidores estrangeiros terem alocação menor em títulos de mercados emergentes denominados em moeda local e a parcela cada vez maior de títulos nas mãos de investidores domésticos protegem esses ativos em períodos críticos, de acordo com Jan Dehn, chefe de pesquisa da Ashmore Group, que supervisiona aproximadamente US$ 52 bilhões em recursos.

Foi o que se observou entre maio de 2013 e dezembro de 2015, quando as moedas de países em desenvolvimento se depreciaram aproximadamente 14 por cento, enquanto os títulos locais perderam, na média, 7,3 por cento, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
“Se isso não implodiu os mercados de títulos deles, nada fará isso”, disse Dehn.

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