Por Jonathan Gilbert com a colaboração de Jorgelina do Rosario e Ignacio Olivera Doll.
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, contava com uma safra quase recorde de soja para impulsionar o crescimento econômico de 3,5 por cento neste ano e ampliar a recuperação do país.
No entanto, a seca deste ano, a pior dos últimos 30 anos, faz com que os agricultores se preparem para a pior colheita desde 2009. É uma surpresa indesejada para um governo cuja lista de tarefas já inclui lutar contra a inflação, reduzir o déficit fiscal e aumentar as exportações.
O governo talvez tenha que reduzir sua projeção do produto interno bruto em 2018 se a seca persistir nesta semana, disse Guido Sandleris, chefe de assessores do Ministério da Fazenda, na segunda-feira. Não há previsão de grandes chuvas.
“Isso terá provavelmente um impacto muito grande na economia, nas exportações e na arrecadação de impostos”, disse Emilce Terre, economista-chefe da Bolsa de Comércio de Rosario. “Os produtos agrícolas são a maior exportação da Argentina e o país precisa de dólares para pagar as importações e a dívida.”
Sinais
Há cada vez mais sinais de que a seca poderia ser pior do que a que os agricultores viram em seus campos ressecados em 2009. As exportações de soja e milho representam 36 por cento do total e pagam impostos ao governo.
A esta altura, em 2009, já havia chovido mais em grande parte dos pampas, segundo mapas que o governo publicou na segunda-feira. Naquele ano, os analistas projetaram uma safra de soja de 46,2 milhões de toneladas. No final da colheita, os fazendeiros tinham colhido apenas 39,9 milhões, um mínimo histórico. A queda arrastou a economia a uma recessão.
A Bolsa de Cereais de Buenos Aires reduziu suas estimativas de 2018 para a soja, para 47 milhões de toneladas, e é provável que tenha que reduzi-las ainda mais, disse Esteban Copati, chefe de analistas de estimativas agrícolas. Os economistas estão começando a fazer o mesmo com as projeções do PIB.
– A Eco Go reduziu a estimativa anterior de 2,1 por cento para uma projeção de 1,8 por cento, disse Martín Vauthier, economista da consultoria.
– No pior dos casos, a seca eliminaria 0,5 ponto percentual de crescimento, disse Lucia Pezzarini, economista da consultoria LCG em um relatório na segunda-feira.
– Ela projeta uma queda de US$ 2 bilhões nas exportações de produtos agrícolas com base nos cortes das estimativas de colheita desde dezembro.
– No entanto, uma flexibilização da política monetária e uma esperada recuperação do Brasil, o maior parceiro comercial, fazem com que a LCG mantenha, por enquanto, sua projeção de crescimento em 2 por cento.
Se as estimativas para a safra continuarem caindo, “isto vai ser ruim”, disse Iván Ordóñez, economista independente e consultor para fornecedores agrícolas. “Poderíamos ter uma repetição de 2009.”
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