Por Joao Lima.
Portugal se ofereceu para receber 10.000 dos refugiados que chegaram à Europa vindos de regiões assoladas pela guerra. Até o momento, o país recebeu 234.
Não porque não queira mais. Na verdade, poucos refugiados bateram à sua porta.
“É difícil encontrar rapidamente refugiados que possam vir para Portugal”, disse o presidente Marcelo Rebelo de Sousa na sexta-feira, de acordo com a agência de notícias Lusa, quando se reuniu com os migrantes em Évora, região sul do país.
A crise dos refugiados aperta o governo grego, já em dificuldades, e aturde o cenário político na Alemanha e em outros países, mas a disposição de Portugal para ajudar a carregar o fardo não está recebendo muita atenção. O país responsabiliza a falta de coordenação na Europa e os obstáculos administrativos, mas o contraste entre seu desempenho econômico e o da Alemanha, que recebeu mais de 1 milhão de migrantes só em 2015, também poderia ter um papel na situação.
Embora a economia portuguesa tenha se recuperado em 2014 e acelerado no ano passado, depois de sofrer contrações por três anos até 2013, o número de desempregados continua alto. O desemprego, que caiu de 17,5 por cento em 2013 para 12,3 por cento, ainda é quase o triplo da taxa alemã, de 4,3 por cento, e isso poderia continuar diminuindo o apelo de Portugal.
“Portugal não é um destino muito atraente por causa da taxa de desemprego”, disse Rui Serra, economista-chefe da Caixa Econômica Montepio Geral em Lisboa. “Para um imigrante, é mais fácil ir para a região central da Europa, onde o mercado é mais concentrado do que em alguns países periféricos, como Portugal. A renda per capita é mais alta na região central da Europa”.
Tapete de boas-vindas
O primeiro-ministro António Costa afirma que problemas estruturais da zona do euro pioram as disparidades.
“O problema estrutural tem a ver com a assimetria entre as distintas economias”, disse ele em Atenas, no dia 11 de abril. “É necessário dar um novo impulso à convergência de nossas economias com as economias mais desenvolvidas da zona do euro”.
Com os dados demográficos do país em mente, o governo português estendeu o tapete de boas-vindas para os refugiados. A população de Portugal diminuiu e envelheceu todos os anos desde o fim de 2011 para cerca de 10,37 milhões no fim de 2014, porque a economia fraca levou muitos habitantes em idade ativa a ir embora do país. A população da Alemanha também está envelhecendo, mas ainda assim cresceu de forma geral em todos os anos do mesmo período.
Aumento da emigração
Longe de atrair imigrantes, Portugal enfrenta dificuldades para convencer seu próprio povo a não ir embora. A partir de 2011, o número de emigrantes foi maior que o de imigrantes em Portugal em todos os anos até 2014, de acordo com o instituto nacional de estatística.
Portugal apontou outras razões para explicar sua falta de apelo para os refugiados, como a coordenação insuficiente na UE e a magnitude da crise, em que mais de 1 milhão de pessoas chegou à região pela Grécia só no ano passado, vindas de países como Síria, Afeganistão e partes da África.
“Portugal, ao contrário de outros países europeus, nunca teve uma grande comunidade síria, afegã nem eritreia, o que poderia explicar por que as pessoas que estão à espera de relocação não indiquem nosso país como primeira prioridade”, disse Eduardo Cabrita, ministro que monitora a iniciativa, em resposta a perguntas enviada por e-mail. Cabrita foi a um aeroporto em Lisboa para dar as boas-vindas aos refugiados que chegavam da Grécia no dia 7 de março.
Portugal não é o único país que planejou a relocação de refugiados e não está atingindo a meta. Os governos realizaram avanços “insatisfatórios” depois da promessa feita no ano passado de compartilhar entre si 160.000 migrantes que chegaram à Grécia e à Itália, disse a Comissão Europeia em um relatório publicado no dia 12 de abril.
“O atraso no programa de relocação se deve às dificuldades burocráticas e logísticas no processo de registro”, disse Rui Marques, diretor da Plataforma de Apoio aos Refugiados, que reúne autoridades públicas e empresas e grupos privados. “Existem também mecanismos de reagrupamento familiar que encaminham os candidatos a países onde eles talvez tenham parentes, e é mais provável que eles tenham parentes na Alemanha ou na Suécia do que em Portugal”.
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