Preço baixo do petróleo pode ser problema para economia mundial

Por Javier Blas e Simon Kennedy.

Nos últimos 75 anos, quase todas as crises econômicas foram precedidas por aumento do preço do petróleo. A preocupação agora é que os baixos preços de energia estão empurrando a economia global para o precipício.

Embora a ideia seja contra-intuitiva, está ganhando força, porque um número cada vez maior de consumidores e investidores do mundo concentra-se nos lugares atingidos pela queda no preços das commodities. A Apple, por exemplo, culpou as vendas mais fracas no último trimestre pelo menor crescimento econômico em alguns países ricos em petróleo.

“Eu nunca pensei que gostaria, e muito menos rezaria, por preços do petróleo mais elevados, mas estou”, disse Han de Jong, economista-chefe do ABN Amro Bank NV, em Amsterdã. “O mundo precisa desesperadamente de preços do petróleo mais elevados”.

O problema é que a economia mundial depende muito mais hoje de países emergentes do que há 15 ou 25 anos – os últimos períodos de preços muito baixos do petróleo. Em outra mudança, os EUA surgiram para rivalizar com a Arábia Saudita e a Rússia como maior produtor de petróleo do mundo. No passado, os danos causados aos exportadores eram mais do que compensados pelos ganhos dos importadores.

E, com exceção da China e da Índia, a maioria dos grandes emergentes é de países ricos em petróleo e commodities. Estas economias representam agora cerca de 40 por cento do PIB global, cerca de duas vezes sua fatia em 1990, de acordo com o Fundo Monetário Internacional.

Calote soberano

Da Rússia à Arábia Saudita, da Nigéria ao Brasil, o crescimento econômico está desacelerando e, em muitos casos, está se contraindo.

“Muitos países exportadores de petróleo enfrentam circunstâncias muito difíceis”, disse Gian Maria Milesi-Ferretti, vice-diretor de pesquisa do FMI. “Então, agora eles precisam cortar gastos de forma significativa, e isso terá um impacto sobre o crescimento econômico”.

A situação é tão grave que um calote soberano, por muito tempo uma possibilidade esquecida, está de volta à mesa. “A história nos fornece motivos para um pessimismo extremo no destino provável dos produtores de commodities”, disse Gabriel Sterne, chefe de pesquisa global macro da Oxford Economics. Na década de 1980, quando os preços do petróleo caíram abaixo de US$ 10 o barril e outras commodities despencaram, “os produtores que evitaram o calote soberano foram a exceção e não a regra”, disse ele, notando que 68 por cento dos monitorados por ele entraram em calote.

O mercado vê a Venezuela, um dos 10 maiores exportadores de petróleo do mundo, como um provável candidato ao calote. Seus bonds com vencimento em 2022 são negociados a 38 centavos de dólar e yield de mais de 40 por cento. Em 2013, o yield era inferior a 10 por cento.

O FMI e o Banco Mundial já estão em negociações com Azerbaijão e Suriname para fornecer empréstimos de emergência. A Nigéria também pediu ajuda ao Banco Mundial e ao Banco Africano de Desenvolvimento.

Alguns não estão preocupados. O Fed de Dallas, EUA, em um estudo publicado em janeiro, disse que uma queda nos preços do petróleo provocada pelo aumento da oferta – como a atual – deve impulsionar o crescimento global em até 0,4 pontos percentuais. “Principalmente devido a um aumento nos gastos dos países importadores de petróleo, o que excede a diminuição das despesas pelos exportadores de petróleo”, disse.

“A realidade é que 4 bilhões de seres humanos vão ter energia mais barata, aquecimento mais barato, vão ter mais renda disponível”, disse Laurence D. Fink, CEO da BlackRock, no mês passado. “E, em última análise, isso vai voltar a acelerar a economia global. Pode demorar seis meses, pode demorar um ano, mas isso é algo bom”.

Até agora os consumidores nos países desenvolvidos não estão se comportando como deveriam: gastar o que economizam com a energia mais barata. Desta vez, “a melhora do consumo nos países importadores de petróleo está sendo até agora mais fraca do que a evidência de episódios passados de queda do preço do petróleo teria sugerido”, disse o FMI em janeiro.

A razão: os consumidores com pouco dinheiro estão usando a poupança para pagar dívidas. Economistas do JPMorgan estimam que famílias norte-americanas, por exemplo, gastam menos da metade do seu dinheiro adicional.

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