Promoção de mercados de fronteira a emergentes ameaça liquidez

Por Natasha Doff, Isobel Finkel e Tracy Alloway.

Reza a lenda que Alexandre, o Grande, chorou quando se deu conta de que não havia mais terras a serem conquistadas. O sentimento é parecido para os investidores que se deparam com o encolhimento dos chamados mercados de fronteira, como Marrocos e Vietnã.

À medida que esses países são promovidos à categoria de “mercado emergente”, um importante índice de mercados de fronteira corre o risco de perder alguns de seus maiores e mais líquidos integrantes, como Paquistão, Argentina e Nigéria. Como são poucos os candidatos óbvios a substituí-los, analistas do Citigroup alertam para o chamado “problema de índice”, que assola esse segmento que proporcionou retornos superiores aos dos mercados mais desenvolvidos nos últimos cinco anos.

“É preciso se perguntar o que sobrou do Frontier Market Index”, disse Hertta Alava, que administra um fundo de fronteira na FIM Asset Management, em Helsinki. “Se Paquistão e Argentina saírem do índice, a composição deixará de ser atraente. Acho que mais e mais fundos decidirão não acompanhar o índice.”

A empresa responsável pelo índice, a MSCI Inc., tem planos de recategorizar o Paquistão no mês que vem, removendo do índice um dos maiores e mais líquidos mercados de fronteira e transferindo-o para o índice equivalente de mercados emergentes. Também se estuda a reclassificação de Argentina e Nigéria. No fim do ano passado, o Paquistão representava 10 por cento do índice, a Argentina, 15 por cento, e a Nigéria, 7 por cento.

Por meio de um porta-voz, a MSCI se recusou a fazer comentários.

O problema é recorrente para investidores com mandatos de acompanhar mercados de fronteira. Há uma década, os Emirados Árabes Unidos e o Catar respondiam por 28 por cento do conjunto de mercados de fronteira e foram transferidos para o conjunto dos emergentes em 2013 — um abalo do qual o Frontier Market Index jamais se recuperou. Seu atual valor de mercado é de US$ 316 bilhões, metade da quantia observada em seu auge.

Ainda assim, muitos investidores de fronteira já se aventuram fora do índice, colocando dinheiro em áreas promissoras como a Arábia Saudita, que pretende se abrir mais ao capital estrangeiro. Muitos investidores de fronteira ainda possuem ações dos Emirados Árabes Unidos e do Catar três anos após a saída desses países do índice, sugerindo que provavelmente manterão as aplicações na bolsa paquistanesa.

“A liquidez vai e vem”, disse Andrew Brudenell, gestor de fundos da Ashmore Group, que ajuda a administrar US$ 700 milhões em ações de mercados de fronteira. “A situação fica muito líquida e com muita empolgação e depois seca tudo. É preciso saber como construir sua carteira a partir do que é a liquidez realista do mercado.”

A construção de carteiras é fácil para fundos de gestão ativa, mas neste momento de maior popularidade das estratégias passivas de investimento, entrar ou sair de um índice pode significar bilhões de dólares em fluxos nas duas direções, segundo Andrew Howell, do Citi.

“Neste mundo de investimentos cada vez mais dominado por índices, os índices têm importância”, ele disse. “Dificuldades com o Frontier Market Index podem impedir um crescimento significativo dos ativos sob gestão de fundos passivos atrelados a esse índice, colocando os mercados de fronteira em contínua desvantagem em relação aos mercados emergentes do ponto de vista de liquidez.”

Howell gostaria que a MSCI acrescentasse mais mercados de fronteira ao índice e ampliasse seu alcance para países como Geórgia, Ucrânia e Camboja.

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