Queda do petróleo pode estragar festa de oposição na Venezuela

Por Nathan Crooks, com a colaboração de Andrew Rosati, Isabella Cota e Pietro D. Pitts.

Justo quando parecia que a mudança estava chegando à Venezuela, veio a OPEP para estragar a festa.

As comemorações ainda estavam acontecendo em Caracas depois das eleições no domingo, que levou a oposição a conquistar a maioria no Congresso pela primeira vez em 16 anos, mas o otimismo sobre a perspectiva de desafiar o governo do presidente Nicolás Maduro começou a diminuir quando o petróleo Brent caiu para menos de US$ 40 por barril pela primeira vez desde 2009.

Como o petróleo é responsável por 95 por cento da receita em moeda estrangeira da Venezuela, a queda nos preços do produto ameaça empurrar a frágil economia do país mais fundo na recessão.

O Fundo Monetário Internacional estima que a economia da Venezuela terá uma contração de 10 por cento neste ano, e os economistas consultados pela Bloomberg projetam que os preços ao consumidor subirão 124 por cento. Embora o resultado da eleição da Assembleia Nacional de domingo seja “o melhor resultado possível”, o otimismo está desaparecendo porque os preços do petróleo começam a causar problemas no fluxo de caixa a curto prazo do país, disse Siobhan Morden, chefe de estratégia de renda fixa na América Latina da Nomura Holdings, na terça-feira em uma nota.

“As contas fiscais são completamente dependentes do petróleo”, disse Francisco Monaldi, analista de política energética da América Latina no Instituto Baker, da Universidade Rice, em Houston, acrescentando que o ponto de equilíbrio para muitos novos investimentos relacionados com o petróleo é cerca de US$ 30 por barril.

Qualquer nova queda no petróleo poderia pressionar a maior empresa do país, Petróleos de Venezuela, que tenta aumentar a receita através do desenvolvimento da faixa de petróleo pesado do Orinoco, disse ele. “É muito difícil para a PDVSA investir se o fluxo de caixa for tão baixo, por isso essa é realmente uma situação de emergência”.

Cada queda de US$ 1 nos preços do petróleo resulta em US$ 686 milhões anuais em perdas de renda com o petróleo para a PDVSA, afirmou Carlos Rossi, presidente da empresa de consultoria EnergyNomics, com sede em Caracas, em entrevista por telefone.

Supermaioria reivindicada

Maduro viajou pelo mundo este ano defendendo preços mais altos para o petróleo e cortes de produção. Suas palavras, na maioria das vezes, caíram em ouvidos surdos, e a OPEP decidiu na semana passada continuar produzindo cerca de 31,5 milhões de barris por dia.

Não diminuir a produção poderia derrubar ainda mais os preços do petróleo, até US$ 20 no próximo ano, avisou o ministro do Petróleo da Venezuela, Eulogio Del Pino, antes da reunião da OPEP na semana passada.

O Conselho Nacional Eleitoral publicou na terça-feira os resultados finais que mostraram que a aliança de oposição tinha eleito 109 deputados, em comparação com os 55 do partido socialista do governo. Outras três cadeiras reservadas para membros de comunidades indígenas vão votar com a oposição, afirmou o secretário da aliança Jesús “Chuo” Torrealba hoje em uma entrevista coletiva em Caracas. A chamada supermaioria permite amplos poderes para se opor ao governo de Maduro.

Os bonds em dólar da Venezuela para 2027 tiveram um rali na segunda-feira depois da divulgação dos resultados eleitorais preliminares, e os yields caíram 1,25 ponto percentual. Os yields caíram 0,22 ponto percentual na terça-feira para 22,8 por cento às 16h09 em Nova York.

“A razão pela qual os bons tiveram um rali ontem teve muito a ver com essa perspectiva de mudança política, mas isso não significa que isso muda os problemas que o país enfrenta”, disse Michael Ganske, que administra US$ 4,5 bilhões em dívida e moedas como chefe de mercados emergentes da Rogge Global em Londres.

Ganske disse que o país só iria sobreviver aos preços do petróleo perto dos níveis atuais se houvesse uma mudança para um governo que pudesse dirigir melhor a economia. “Não é um país pobre, é um país rico. É apenas muito mal administrado por uma pessoa louca”.

Com uma supermaioria de 112 deputados no Congresso, a oposição teria poderes substanciais para tentar reverter algumas das medidas populistas de Maduro, que contribuíram para o colapso da moeda e para a escassez generalizada de produtos.

O economista do Bank of America, Francisco Rodriguez, disse na terça-feira que os principais ajustes econômicos e uma transição para políticas mais favoráveis ao mercado, incluindo uma possível mudança no governo, são prováveis no ano que vem.

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