Notícia exclusiva por Josué Leonel e George Lei.
Se o Banco Central tomar como base as suas próprias estimativas sobre a inflação na hora de decidir encerrar a alta dos juros, como se espera, estará escolhendo um cálculo que tem sido menos preciso do que o do mercado nos últimos anos.
Pesquisa feita com dados oficiais mostra que, desde que Alexandre Tombini assumiu o comando, as previsões do BC na maior parte do tempo têm ficado mais distantes do que as do mercado em relação ao IPCA efetivo. Além de suas previsões serem menos precisas que as do mercado, o BC nesta década também ficou atrás do desempenho do próprio banco entre 2006 e 2010, quando era liderado por Henrique Meirelles.
Sob Meirelles, as estimativas do BC, embora nem sempre tenham sido precisas em relação ao resultado efetivo, estiveram na maior parte do tempo próximas às projeções do mercado, sugerindo que as expectativas estavam ancoradas.
A pior ancoragem das expectativas nos últimos anos também se refletiu num desempenho mais fraco do BC no cumprimento da meta. Desde 2011, o IPCA teve seu menor nível, de 4,9%, em 2012. O pico deve ser atingindo neste ano, que já acumula inflação de 8,5% em 12 meses. Em 3 anos no período entre 2006 e 2010, a inflação ficou abaixo ou igual à meta de 4,5%, com piso de 3,1% em 2006 e pico de 5,9% em 2010. Desde 2009 o IPCA não fica na meta de 4,5%.
O BC está tendo de ser ’’excessivamente conservador’’ hoje devido à perda de credibilidade dos últimos anos, diz Carlos Thadeu de Freitas Gomes Filho, economista da Franklin Templeton Investments. Para ele, o mercado duvida que o BC vá cumprir a meta em 2016. Para isso, o BC teria de elevar o juro ’’ao infinito’’, causando uma forte recessão.
O economista prevê que o BC vá em breve parar de subir a Selic, mesmo com a previsão do IPCA ainda acima da meta. A dureza adicional do ajuste monetário viria com o tempo em que a taxa ficaria no topo, na casa dos 14%. O BC só voltaria a cortar juros no 2º semestre de 2016.
Gomes Filho acredita que o BC poderia ter fixado uma meta ajustada para 2016, similar aos 5,5% previstos pelo mercado, como já foi feito no passado. Não o fez para não mostrar hesitação, após ser acusado de leniência nos últimos anos. “Se o BC não tivesse que recuperar credibilidade, ele poderia estar fazendo um ajuste mais gradual.”
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