Por Samy Adghirni, Simone Iglesias e Rachel Gamarski.
O rebaixamento do Brasil se tornou a mais nova peça no xadrez eleitoral que envolve dois dos mais importantes atores da política brasileira: o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Ambos, que travam disputa velada para ser candidato à Presidência, acusam um ao outro pelo downgrade aplicado pela Standard & Poor’s na última quinta-feira.
Enquanto Meirelles diz que o Congresso é um dos responsáveis pela não aprovação da Previdência, apontada no relatório da S&P como um dos fatores considerados na decisão, Maia diz que “não é justo” tentar transferir a responsabilidade para os parlamentares que já aprovaram diversos projetos a favor do governo. “A reação de parte do governo certamente não ajuda”, disse em entrevista à Bloomberg.
Maia tem o controle da agenda legislativa e busca na votação da reforma da Previdência reivindicar para si o êxito de uma eventual aprovação da medida ou, ao menos, com a determinação de colocar o assunto em pauta. Condutor da pauta econômica do governo, Meirelles tem no seu portfólio a queda dos juros, da inflação, do desemprego, e medidas de rigor fiscal. O rebaixamento, porém, mostra que esse esforço, sem a Previdência, não foi suficiente.
Preocupação com as reformas
Com a eleição presidencial no horizonte, Meirelles e Maia iniciaram o ano eleitoral em rota de colisão por conta da ideia de flexibilizar a regra de ouro, que proíbe o governo de fazer empréstimos para pagar gastos correntes, como salários. O embate só foi encerrado após intervenção direta do presidente Michel Temer.
No Palácio do Planalto, a avaliação de que os dois estão em campanha é boa para o governo, que não consegue colar em Temer a melhora da economia. Há preocupação, no entanto, que a disputa se acirre e prejudique a agenda de reformas.
Segundo uma pessoa do gabinete presidencial, o caso da regra de ouro foi emblemático e quase colocou por terra o esforço para tentar aprovar a reforma da Previdência. Isso porque a discussão sobre a capacidade de empréstimo do governo foi interpretada como sinal de que já se busca um plano B caso a mudança no sistema previdenciário não seja aprovada, segunda a pessoa, sob a condição de anonimato.
Decisões nos próximos meses
Maia acelerou as articulações nas últimas semanas. Não quer perder tempo e tem seu partido, o DEM, jogando a favor. Segundo o ministro da Educação,Mendonça Filho, vice-presidente da legenda, há consenso interno pelo lançamento da candidatura de Rodrigo Maia. Os democratas farão convenção entre fevereiro e março.
“Nossa decisão é a de ter candidato a presidente e Rodrigo está na crista da onda. Ele é o avalista de um Brasil moderno”, defendeu Mendonça Filho.
Já o ministro da Fazenda pretende anunciar uma decisão entre o fim de março e início de abril, prazo para que ministros são obrigados a deixar o cargo caso queiram concorrer em 2018. Segundo interlocutores do ministro da Fazenda, a avaliação de Meirelles é de que tanto ele quanto Maia transitam bem no mercado financeiro e trabalham no mesmo campo. Com isso, uma candidatura de Maia não deverá atrapalhar a pauta econômica, disse uma fonte próxima ao ministro.
Diferentemente do que aconteceu em gestões anteriores, quando embates entre Congresso e Fazenda tinham impacto fiscal elevado com a aprovação de medidas contrárias à orientação da equipe econômica, agora, ambos trabalham pelo ajuste. Assim, Meirelles não pretende partir para a briga, nem deve responder a eventuais provocações do presidente da Câmara.
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