Por Jeanna Smialek.
Em apenas uma semana, os mercados migraram de duvidar de uma elevação de juros nos EUA em março para a premissa de que esta decisão é inquestionável. O alto escalão do banco central americano arquitetou a mudança ao falar a favor do aumento na taxa, culminando com o apoio da chair do Federal Reserve, Janet Yellen, na sexta-feira.
O que empurrou as autoridades da postura neutra captada na ata da reunião de janeiro para a beira de uma elevação nos juros? Não muito, em se tratando de dados da economia americana. O fato de nada ter piorado bastou para abrir caminho para um acréscimo em março, particularmente porque os números estáveis da economia doméstica acompanharam a melhora lenta da perspectiva internacional. Uma situação radicalmente diferente da observada há um ano, quando os riscos globais colaboraram para a manutenção da postura do Fed.
“Praticamente nenhum indicador econômico foi ruim nos últimos três meses”, afirmou o vice-presidente do Fed, Stanley Fischer, na sexta-feira durante um fórum organizado pela Universidade de Chicago. Na mesma direção, Yellen afirmou que emprego e inflação estão evoluindo em linha com as expectativas do comitê de política monetária (Federal Open Market Committee – FOMC).
O desemprego “essencialmente se encaixou” no que as autoridades consideram pleno emprego, disse Yellen na sexta-feira. O baixo nível de desemprego não é uma grande mudança em relação ao ano passado, embora os salários estejam subindo lentamente, sugerindo restrição no mercado de trabalho.
A perspectiva para o crescimento econômico tampouco mudou. O responsável pelo escritório regional do Fed em Nova York, William Dudley, afirmou que a economia permanece em trajetória de expansão ao redor de 2 por cento, em entrevista à CNN em 28 de fevereiro. Ele depois sinalizou disposição em subir os juros em breve.
Resumidamente, a economia americana não atravessa um ponto de virada, mas está se segurando. Evidentemente, é tudo que o Fed precisa ver.
Riscos no exterior “recuaram um pouco”
A perspectiva global mudou, segundo Yellen e seu colega de comitê Lael Brainard. Em 2016, o Fed iniciou o ano inclinado a elevar os juros, mas o tumulto nos mercados da China e a decisão do eleitorado britânico de sair da União Europeia colaboraram para que mantivesse a taxa inalterada até dezembro.
Neste ano, “as perspectivas de crescimento econômico moderado adicional parecem promissoras, especialmente porque os riscos que emanam do exterior parecem ter recuado um pouco”, declarou Yellen na sexta-feira.
“O crescimento estrangeiro tem base mais sólida e os riscos à perspectiva estão tão próximos do equilíbrio quanto estiveram há algum tempo”, disse Brainard em 1º de março.
Segundo Yellen, a China “continuou crescendo e sua gestão da moeda tem sido melhor compreendida e levado a menos volatilidade”. Já Brainard disse que as autoridades chinesas “estabilizaram o crescimento e acalmaram temores de instabilidade financeira.”
Yellen ressaltou que as negociações em torno do Brexit e as preocupações referentes à integração europeia podem continuar representando riscos, mas Brainard afirmou que, na Europa, a “recuperação tem se provado cada vez mais resistente.”
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