Argentina: Resultado da eleição presidencial de primeiro turno aponta para segundo turno

Por Charlie Devereux.

O candidato da situação argentina, Daniel Scioli, venceu o primeiro turno das eleições da Argentina com uma boa margem no dia 9 de agosto, mas não conseguiu os votos necessários para ter uma vitória em primeiro turno. O mercado financeiro disparou.

Scioli, do partido da situação Fronte da Vitória, recebeu 38,5 por cento dos votos com 97 por cento das urnas apuradas em resultado preliminar. A aliança de oposição encabeçada por Mauricio Macri recebeu 30 por cento dos votos. Scioli precisava de 45 por cento ou mais de 40 por cento com uma margem de vitória de 10 pontos percentuais para evitar o segundo turno no dia 22 de novembro.

“Parece provável que vamos ter um segundo turno”, disse Jimena Blanco, analista sênior de América Latina da Verisk Maplecroft em Londres. A vitória no primeiro turno de Scioli não é “impossível, mas ele precisaria chegar a 40 por cento dos votos e teríamos de imaginar que Macri não aumentaria sua votação também”.

Macri comprometeu-se a modificar as políticas instituídas pela presidente Cristina Fernández de Kirchner que aumentaram a inflação e alargaram o déficit do orçamento, mas reduziram as taxas de pobreza nos início dos seus dois mandatos.

Scioli garantiu que vai manter os gastos com programas sociais e disse que vai fazer alterações em algumas políticas com o objetivo de atrair investimentos. Os dois candidatos se mostraram interessados em acabar com o status de pária da Argentina no mercado financeiro internacional depois dos defaults no ano passado e em 2001.

Os mercados viram os resultados com bons olhos. O spread médio dos títulos caiu 0,19 ponto percentual para 5,73 pontos, segundo dados do JPMorgan. Os títulos com vencimento em 2033 subiram em 1,2 centavo de dólar para 100,7 centavos em 12:13 p.m., em Buenos Aires. “Esses resultados deixam claro que vai ter um segundo turno e as pesquisas mostram que as chances de Macri são maiores”, disse Jorge Piedrahita, Chief Executive Officer do Torino Capital em Nova York.

Macri, de 56 anos, foi duas vezes prefeito da capital do país e se comprometeu a resolver a disputa com os hedge funds credores que processaram o país nos tribunais dos Estados Unidos e acabar com os controles monetários, ao mesmo tempo em que garantiu que vai manter as empresas estatais sob controle do governo.

“Uma alternativa se consolidou”, disse Macri aos seus eleitores. “Sabemos como fazer a Argentina voltar a crescer e como acabar com a pobreza.”

Massa, antigo chefe de gabinete de Fernández, que criou seu próprio movimento peronista dissidente, recebeu 20,7 por cento dos votos na sua coalizão com o governador de Córdoba, José Manuel de la Sota. Massa pediu diálogo com o restante da oposição. Em um comunicado para clientes, analistas da empresa de serviços financeiros Raymond James interpretaram a declaração como um sinal de que ele vai apoiar Macri no caso de um segundo turno.

O próximo governo vai ser empossado no dia 10 de dezembro. Pesquisas de opinião pública colocam, em média, uma vantagem de 7 pontos percentuais para Scioli sobre a aliança Cambiemos de Macri.

Os títulos de referência do governo tiveram retorno de 16 por cento no ano passado por conta da especulação que o sucessor de Fernández vai acabar com o controle de capital, subsídios e vai atacar a inflação. O índice de ações Merval ganhou 21 por cento neste ano. Ainda assim, nos últimos meses, Scioli se alinhou ainda mais com Fernández, aumentando as preocupações de que ele vai adiar as mudanças econômicas que os investidores estão esperando.

O país está em default, o déficit orçamentário está crescendo e a inflação atinge 28 por cento, enquanto a nação precisa pagar 6,3 bilhões de dólares em outubro com opções limitadas de financiamento além das suas reservas. A taxa cambial do mercado negro atingiu 10 por cento no último mês, com 14,9 pesos por dólar, enquanto a taxa oficial é de 9,2 pesos.

“Não há nada decidido”, disse Sebastian Vargas, estrategista da Barclays. “A polarização dessa eleição foi menor que o esperado, o que significa que tudo pode acontecer em outubro.”

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