Risco político desacelera fusões e impulsiona emissões no Brasil

Por Cristiane Lucchesi, Carolina Millan e Felipe Marques.

As implicações políticas dos escândalos de corrupção no Brasil estão afetando os negócios dos bancos de investimento: as transações de fusões e aquisições têm demorado mais para serem fechadas e as companhias têm antecipado a emissão de ações e de títulos de dívida para evitar o impacto das eleições presidenciais de 2018.

“Os anos de eleição podem ser voláteis para os mercados e o próximo ano vai ser particularmente assim”, disse José Olympio Pereira, presidente do Credit Suisse no Brasil. “Se eu fosse um emissor, tentaria levantar todo o capital que pudesse neste ano, o mais rápido possível, e não deixaria nada para o ano que vem”, disse Pereira. O Credit Suisse lidera o ranking dos assessores de fusões e aquisições em 2017, segundo dados compilados pela Bloomberg.

As empresas parecem concordar com o ponto de vista de Olympio. As ofertas de ações alcançaram R$ 15,4 bilhões (US$ 4,9 bilhões) em 2017 até o momento no Brasil, já superando todo o ano de 2016, enquanto as captações de dívida no exterior se multiplicaram por quase seis vezes, para US$ 9,95 bilhões. Os anúncios de acordos de fusão e aquisição, nos quais os investidores têm uma perspectiva mais de longo prazo, caíram para US$ 844,3 milhões em março, contra US$ 5,66 bilhões em fevereiro, ficando pela primeira vez desde janeiro de 2015 abaixo da marca mensal de US$ 1 bilhão.

“As companhias estarão se movimentando o mais rápido que podem para tirar vantagem da janela de oportunidade, mesmo que o mercado de dívida ou de ações não esteja no seu pico”, disse Patrícia Moraes, diretora do JPMorgan no Brasil, em entrevista. “As empresas pagaram juros demais nos últimos anos e alguns setores precisam se recapitalizar, refinanciar dívidas, por isso faz sentido emitir ações.”

IPO da Azul

A empresa aérea Azul vendeu ações neste mês e a demanda superou a quantidade oferecida. A Azul chegou a subir 9,4 por cento em sua estreia no mercado, em 11 de abril, após levar adiante uma oferta pública inicial que havia sido adiada diversas vezes, inclusive com uma interrupção de última hora pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A aérea brasileira criada pelo fundador da JetBlue Airways, David Neeleman, e seus acionistas captou US$ 572 milhões.

“Emissões de ações maiores, de R$ 2 bilhões ou mais e de empresas mais conhecidas, são vendidas mais facilmente do que transações menores porque os investidores internacionais exigem liquidez”, disse André Rosenblit, chefe de ações do Banco Santander Brasil, em primeiro lugar no ranking de líder de emissão de ações do país neste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A explosão das emissões de ações neste ano, que mais do que quintuplicaram em relação ao mesmo período do ano passado, não está sendo desencorajada pelo avanço da Operação Lava Jato, na qual foram anunciadas 83 novas investigações tendo políticos como alvos. Embora as revelações possam atrasar as votações da reforma da Previdência, considerada fundamental para a melhora das contas fiscais do Brasil, a perspectiva para uma aprovação final continua intacta, segundo o grupo de análises políticas Eurasia.

Essa expectativa também está beneficiando os mercados de dívidas, nos quais “há uma série de vencimentos em 2018 e 2019 para as corporações brasileiras”, disse Moraes, do JPMorgan. “Desde o ano passado, temos visto as empresas anteciparem a rolagem de dívida.”
As empresas brasileiras têm US$ 13,1 bilhões em dívidas externas com vencimento em 2018 e mais US$ 16,9 bilhões para 2019, segundo dados compilados pela Bloomberg.

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