Sequência de desvalorizações gera temor em bancos centrais

Por Simon Kennedy.

Talvez os bancos centrais do mundo inteiro tenham tomado a mesma resolução para o ano novo: uma moeda mais fraca.

Seja de forma explícita ou implícita, os responsáveis pela política econômica parecem estar recorrendo à depreciação das taxas de câmbio como caminho para fortalecer a demanda e inflação, já que outras ferramentas de estímulo se esgotam ou não dão resultado.

Só na semana passada, a política monetária da China turvou os mercados globais pela segunda vez em cinco meses quando as autoridades permitiram que o yuan caísse. A medida valeu uma advertência do ministro da Fazenda do México, Luis Videgaray, que disse que o mundo enfrenta novamente o risco de sofrer desvalorizações competitivas.

Enquanto isso, o Riksbank, da Suécia, disse que está pronto para intervir para limitar os ganhos na coroa sueca e o presidente do Banco Nacional da Suíça, Thomas Jordan, reiterou o compromisso para controlar o franco suíço quase um ano depois de abandonar um limite máximo para a moeda.

Taxas na cabeça

Talvez as autoridades dos principais bancos centrais também tenham as taxas de câmbio na cabeça. Apesar do Federal Reserve (Fed) ter subido sua referência no mês passado, funcionários como o vice-presidente Stanley Fischer observaram que anteriormente a disparada do dólar ocorrida desde meados de 2014 tinha ajudado a desencorajar a instituição de agir.

No Banco Central Europeu, o presidente Mario Draghi observou no mês passado que o euro era “importante para a estabilidade e o crescimento dos preços” quando aumentou o estímulo. Uma alta do iene poderia obrigar o presidente do Banco do Japão (BOJ, na sigla em inglês), Haruhiko Kuroda, a cogitar mais flexibilização quantitativa. O presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, passou a ser mais conciliador depois que a libra esterlina subiu no ano passado por causa da especulação de que o Reino Unido imitaria o Fed e aumentaria as taxas no futuro próximo.

Problemas do passado estão por trás da vontade cada vez maior da China de depreciar o yuan, segundo George Saravelos, estrategista do Deutsche Bank AG em Londres. Isso poderia ser um assunto cada vez mais discutido considerando a função da China como presidente do G20 neste ano.

Retroalimentação

“A economia chinesa tem sofrido porque a moeda tem estado atrelada ao dólar ao passo que o restante do mundo andou desvalorizando”, disse Saravelos a clientes na semana passada. “A China já não tolerará mais desvalorizações competitivas do resto do mundo”.

Entendendo que uma guerra cambial tenha começado, Mark Chandler, diretor global de estratégia cambial da Brown Brothers Harriman Co., também diz que a tendência do dólar continua sendo ascendente, que o iene superou os rivais nos últimos seis meses e que o yuan não caiu tanto assim com base na cotação comercial ponderada.

No entanto, os circuitos de retroalimentação estão na cabeça dos estrategistas do HSBC Holdings Plc, que estimam que a sensibilidade dos traders de taxas de câmbio às expectativas para as taxas de juros é a mais alta em quinze anos.

“Uma normalização bem-sucedida da política monetária talvez tenha que esperar enquanto as principais economias não conseguirem se ajustar juntas”, disseram estrategistas encabeçados por David Bloom em um relatório na semana passada. “As moedas estão tolhendo o caminho plausível das taxas de juros no futuro”, disseram eles. “O risco é que nós observamos uma sequência cada vez mais extensa de políticas econômicas nas quais pelo menos uma parte da meta é enfraquecer a moeda”.

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