Surto de tornados nos EUA não é culpa da mudança climática

Por Eric Roston.

Tornados matam mais pessoas quando ocorrem em “surtos”, sistemas de tempestade que geram aproximadamente mais de meia dúzia de funis em um tempo e uma área limitados. Essas tempestades mataram 49 pessoas no ano passado e quase 80 por cento das mortes por furacões entre 1972 e 2010 ocorreram durante esses surtos.

Trata-se de uma preocupação cada vez maior para os cidadãos da chamada “alameda dos tornados”, na região Centro-Oeste dos EUA — e para as companhias de seguros e resseguros que os cobrem — porque os surtos nos EUA estão ficando mais violentos, de acordo com um estudo publicado na quinta-feira na revista acadêmica Science. O artigo, no entanto, deixou os pesquisadores com algumas dúvidas inesperadas. Uma delas é que os dados não condizem com as projeções de como o aquecimento global mudará o mundo.

O estudo analisa o número de tornados e surtos, assim como tendências das condições ambientais que favorecem as tempestades e os tornados. A surpresa nesse trabalho surgiu na última parte.

Os cientistas preveem que à medida que o planeta for ficando mais quente haverá um aumento da energia e da umidade perto do solo, algo que os meteorologistas chamam de “energia potencial convectiva disponível” (Cape, na sigla em inglês). É uma espécie de combustível para tempestades. Os gases do efeito estufa prendem mais energia na atmosfera, o que aquece tudo e permite que o ar retenha exponencialmente mais água para cada grau de aumento da temperatura. Os pesquisadores normalmente estimam que a Cape pode significar tempestades mais violentas.

O outro elemento importante dessas tempestades violentas é a cortante vertical do vento, o fenômeno da mudança da direção e da intensidade do vento com a altitude. Segundo as projeções, ao contrário da Cape, a cortante não mudará muito com o aquecimento global.

O que eles descobriram — “o detalhe inesperado”, como disse o autor principal Michael Tippett — foi que a cortante do vento acompanhou as tendências de surto de tornados mais de perto do que a Cape. “Quem é o responsável pela tendência? A Cape ou a cortante do vento? Acho que muita gente, inclusive nós mesmos, suporia que foi a Cape. Isso não é o que vemos. Então é por isso que este é um detalhe inesperado.”

Tippett, que faz matemática aplicada da Universidade Columbia, levantou algumas hipóteses. Uma é a de que a tendência do surto de tornados pode não estar relacionada com a mudança climática, “ou é a mudança climática, mas nós não a entendemos”, disse ele.

A pesquisa foi parcialmente financiada pela Willis Research Network, uma organização que financia investigações sobre questões científicas de interesse para o setor de resseguros. Especialistas em furacões que analisaram o artigo estão divididos sobre as conclusões.

Entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.

Agende uma demo.