Por Bloomberg News.
Nas cidades, os venezuelanos catam lixo para buscar comida, e terras cultiváveis que antes eram férteis também se tornaram inférteis.
No oeste do país, o estado Portuguesa, que era o celeiro da Venezuela, centenas de hectares aráveis se perderam porque as sementes não chegaram antes da temporada de chuvas. Lesmas e caracóis invadiram os campos porque os pesticidas desapareceram quando o governo sem dinheiro reduziu as importações. Ladrões procuram comida de noite e um “cemitério de tratores” espera peças de reposição que nunca chegam.
A escassez foi causada pelo homem, não pela natureza. Tetos de preços estabelecidos pelo autoritário regime socialista de Nicolás Maduro obrigaram os agricultores a reduzir a produção porque seus produtos deixaram de dar lucro. A produção de milho, o principal ingrediente das arepas, alimento básico no país, caiu para menos da metade desde 2008, segundo a Confederação de Associações de Produtores Agrícolas da Venezuela.
Dos 15 milhões de toneladas de cana-de-açúcar consumidos no país no ano passado, só uns 3,2 milhões de toneladas foram produzidos nacionalmente – mais de 60 por cento menos que oito anos atrás. O sorgo, normalmente cultivado como ração para o gado, praticamente desapareceu.
Como parte de sua guerra econômica contra a burguesia, o falecido ex-presidente Hugo Chávez expropriou processadores de alimentos, lojas e milhões de hectares de fazendas e granjas. Ele queria dar impulso a um setor agrícola cambaleante – antigamente elogiado por produzir o melhor café e cacau do mundo – que havia sido abandonado durante o boom do petróleo no país.
A Agropatria, a empresa de suprimentos agrícolas nacionalizada em 2010, detém o monopólio de tudo, das sementes aos pesticidas. Maduro reduziu as importações para conseguir mais dinheiro para pagar bilhões de dólares em dívidas do país e da petroleira estatal.
Hoje, e escassez de alimentos se tornou tão desesperadora que moradores de Caracas acordam e descobrem que seus sacos de lixo foram revirados em busca de comida. Cerca de 40 por cento das famílias em quatro dos estados mais populosos pedem esmola ou vasculham lixeiras para comer, segundo uma pesquisa feita em setembro pela Caritas, uma instituição de caridade católica. Cerca de 70 por cento das crianças nesses estados apresentam algum grau de desnutrição.
“Não há sementes nem fertilizantes. Ainda por cima, há escassez de alimentos e blecautes com regularidade”, disse o agricultor Johnny Villaroel, 49. “Eu trabalho com prejuízo, mas, infelizmente, só sabemos fazer isso: plantar.”
Os 36 hectares de Jorge Donello precisam de umas 40 sacas de sementes. Chegaram apenas 20. “Grande parte de nosso milho é roubada. Pessoas vêm à noite e arrancam a safra com a mão.”
“Tudo chega tarde, as sementes, o pesticida. Neste ano, eu não consegui plantar direito, porque não tínhamos nada disso”, disse José Leonardo Garrido, 40. “Eu não entendo de política, só sei trabalhar. Mas isto eu posso dizer: sou 100 por cento revolucionário.”
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