Por Tasos Vossos.
Companhias emissoras podem acessar o mercado de títulos verdes em busca de algo a mais do que a chancela ambiental: disponibilidade de recursos à prova de volatilidade.
Tesoureiros que avistam riscos como o orçamento da Itália e a saída do Reino Unido da União Europeia podem considerar a emissão de títulos verdes para aproveitar a crescente demanda por investimentos ambientalmente responsáveis.
Na Europa, o total de ativos administrados por fundos verdes dobrou desde 2013 para mais 32 bilhões de euros (US$ 37 bilhões) no ano passado, com base em dados da Novethic. Esse movimento criou apetite voraz por dívidas atreladas a projetos sensíveis à preservação do meio ambiente.
“Nunca vi um título verde fracassar”, disse Patrick Wuytens, responsável por investimentos sindicalizados de alta qualidade do ING Groep, que neste ano ocupa a terceira colocação do ranking de coordenação de emissões de títulos verdes não governamentais denominados em euros, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. “Definitivamente existe um público verde, o que pode ajudar quando o mercado fica mais complicado.”
Emissores como a companhia de investimento imobiliário Prologis e o National Australia Bank contribuíram para um aumento de aproximadamente 60 por cento nas vendas de títulos verdes não governamentais em euros em 2018, contrastando com a queda das emissões de papéis não verdes. A necessidade de alocação de recursos pelos investidores de perfil verde também pode estimular a emissão desse tipo de dívida. Os detentores desses papéis podem relutar em vender, mesmo em momentos de estresse no mercado.
“A base de investidores subjacente para os títulos verdes provavelmente é mais aderente”, disse Anthony Barklam, corresponsável por mercados de dívida do Mitsubishi UFJ Financial Group. “Em períodos de alta volatilidade, é de se esperar desempenho superior dos títulos verdes.”
No caso do National Australia Bank, uma colocação de 750 milhões de euros em títulos verdes com prazo de cinco anos atraiu 2,4 bilhões de euros em pedidos no mês passado, mais que o triplo do tamanho da operação. No mesmo dia, o banco australiano vendeu um título não verde com prazo de 10 anos e o total de pedidos foi só uma vez e meia maior do que a colocação.
O total de pedidos na emissão de títulos verdes pela Prologis em março foi quatro vezes maior do que a colocação, enquanto uma nota não verde oferecida em julho recebeu pedidos equivalentes ao triplo do montante ofertado.
Ainda assim, os captadores não têm grande vantagem no mercado de títulos verdes em termos de custo. Os títulos verdes globais rendem aproximadamente 1,7 por cento, com base em um índice Bloomberg Barclays MSCI. Já o índice Bloomberg Barclays Global Aggregate rende cerca de 2 por cento.
Os fundos buscam retorno mesmo quando investem em projetos verdes, ressaltou Peter Van Raemdonck, diretor-executivo de finanças corporativas do Bank Degroof Petercam, que coordena operações com instrumentos verdes.
“Não importa o foco do investidor, a primeira tarefa ainda é avaliar a qualidade de crédito do emissor”, ele disse.
Em geral, os emissores precisam que uma entidade externa certifique os títulos verdes como favoráveis ao meio ambiente, o que cria complicações adicionais — especialmente para quem tem problemas com poluição, como minas de carvão e refinarias de petróleo.
Um número crescente de emissores nos EUA e Europa acredita que vale a pena obter as credenciais ambientais necessárias para acessar novos investidores. As emissões corporativas de títulos verdes nos EUA devem bater recorde neste ano, segundo a Climate Bonds Initiative.
Novos investidores também se interessam por esse mercado por causa do retorno. A gestora de renda fixa de melhor desempenho da Suécia, a Captor Investment Management, abriu um fundo verde em julho. A expansão da base de investidores pode suavizar as oscilações do mercado, disse Noemie De La Gorce, analista da S&P Global Ratings.
“O financiamento verde atraiu novos tipos de investidores”, ela disse. Essa “diversificação pode contribuir para a redução do risco de volatilidade”.
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