Usinas de açúcar do Brasil projetam queda na produção por etanol

Por Fabiana Batista.

A indústria açucareira do Brasil, a maior do mundo, se prepara para uma queda de cerca de 10 por cento na produção no ano que vem. O motivo é o desvio de uma quantidade maior de cana-de-açúcar para o renascente mercado do etanol, mudança que pode repercutir em todo o mundo.

O petróleo mais caro está ajudando o etanol no Brasil, onde a maioria dos motoristas tem carros flex, que rodam com o biocombustível e com gasolina. A estatal Petrobras tem elevado os preços da gasolina para alinhá-los mais ao mercado internacional.

A Louis Dreyfus, uma das maiores traders de commodities agrícolas do mundo, dona da segunda maior processadora de cana-de-açúcar do Brasil, prevê queda de 4,1 milhões de toneladas na produção da principal região açucareira do País na próxima safra, que começa em 1º de abril. A Datagro, consultoria que organizou uma conferência do setor em São Paulo nesta semana, projeta queda de 3,8 milhões de toneladas.

“O mundo conta com essa mudança no mix para o etanol no Brasil” para consolidar essa redução esperada para o excedente global de açúcar e dar suporte aos preços, disse Enrico Biancheri, chefe de trading de açúcar da Louis Dreyfus, aos participantes da conferência. “Se isso não ocorrer, o cenário muda.”

A Datagro reduziu a estimativa para o superávit na safra atual de 2017-2018 de 2,95 milhões de toneladas para 430.000 toneladas, mas outros atores do setor mostram menos otimismo. A exportadora brasileira Copersucar afirmou na conferência que estima um excedente de 7 milhões de toneladas. O número se equipara a algumas outras projeções sombrias recentes.

Ainda assim, com o petróleo brent negociado a mais de US$ 60 por barril nos últimos tempos, o etanol já parece mais rentável do que o açúcar para o ano que vem, disse Biancheri. O consultor independente de açúcar Michael McDougall vê potencial para que o petróleo chegue a US$ 70 no ano que vem. Além disso, a próxima safra da cana do Brasil provavelmente será menor depois que a seca dos últimos meses prejudicou o desenvolvimento dos canaviais.

Se ocorrer, a restrição da oferta pode ser suficiente para aumentar os preços do açúcar bruto, negociado a cerca de 14 centavos de dólar a libra-peso em Nova York desde junho. Os preços dos futuros acumulam queda de 25 por cento no ano, um dos piores desempenhos entre as commodities.

A seguir, algumas estimativas do evento da Datagro:

– A Datagro estima que a produção de açúcar da região Centro-Sul do Brasil cairá de 36,4 milhões de toneladas em 2017-2018 para 32,6 milhões de toneladas na safra 2018-2019. A Louis Dreyfus estima um declínio de 36,2 milhões de toneladas para 32,1 milhões de toneladas. Globalmente, a Dreyfus vê um “superávit gerenciável” de 3 milhões de toneladas, disse Biancheri.

– Apesar de suas expectativas de um grande superávit global, a Copersucar prevê queda de pelo menos 1,5 milhão de toneladas na produção do Centro-Sul, disse Paulo Roberto de Souza, presidente da empresa, na conferência.

– O etanol brasileiro pode receber novo apoio, porque a Petrobras tem espaço para continuar aumentando os preços da gasolina, disse Plinio Nastari, presidente da Datagro, em entrevista.

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