Vale, Rio Tinto, BHP formam oligopólio eficiente

Por David Fickling.

As três maiores produtoras de minério de ferro do mundo — Vale, Rio Tinto e BHP Billiton — costumam se ofender quando comparadas aos maiores produtores de petróleo.

O mercado do petróleo, afinal, é dominado por empresas estatais que deixam explícito o desejo de atuar de acordo com interesses estratégicos nacionais de longo prazo. As maiores produtoras de minério de ferro são empresas comerciais com capital aberto em bolsas de valores internacionais.

“Não estamos tentando ser a Arábia Saudita, de jeito nenhum”, disse o presidente do conselho da Rio Tinto, Jan du Plessis, na reunião anual de acionistas da empresa, em Londres, na semana passada. “Não desejamos expulsar ninguém do mercado”.

Como os resultados da produção mostraram na terça-feira que a produção de minério de ferro registrou alta de 13 por cento em relação ao ano passado durante o trimestre que terminou em março, quando os preços permaneceram perto do nível mais baixo em oito anos, a afirmação deve ser encarada com cautela.

Contudo, o trio deveria agradecer por não ser a Arábia Saudita — e isso não quer dizer que não opere um oligopólio. É exatamente o contrário: as três empresas deveriam agradecer pelo fato de seu oligopólio ser muito mais efetivo do que o que opera no mercado do petróleo.

Observando o progresso dos preços do petróleo e do minério de ferro nos últimos anos, é impressionante ver como eles começaram a se mover em paralelo. Em contraste com os níveis de três anos atrás, quase se poderia dizer que os movimentos das duas commodities desde o início do ano poderiam ser desenhados com uma única caneta.

Isso não significa que o padrão se manterá, especialmente se a alta recente dos preços das commodities desaparecer.

O problema para os integrantes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo é que, diferentemente da percepção geral, eles não constituem um cartel de fato, nem nada perto disso. Os cinco maiores produtores da indústria global de petróleo — EUA, Arábia Saudita, Rússia, Canadá e China — controlam cerca de 48 por cento do mercado. No setor de minério de ferro, o número equivalente é de cerca de 77 por cento.

Ao observar as quatro principais empresas — uma medida monitorada pelos economistas e pelas reguladoras antitruste conhecida como índice de concentração de quatro empresas –, a diferença é ainda mais gritante. Como regra geral, os setores nos quais os quatro principais operadores têm mais de 60 por cento de participação de mercado, ou perto disso, se inclinam para o oligopólio. Aqueles nos quais essas empresas respondem por menos de 40 por cento contam como competitivos. O minério de ferro, com 72 por cento, não parece ser muito competitivo. O petróleo, setor no qual os quatro maiores operadores detêm 43 por cento do mercado e mesmo a Opep bombeou pouco mais de 40 por cento da produção de petróleo global nas últimas duas décadas, por sua vez, parece.

Pelos preços atuais, de US$ 60 por tonelada, quase todas as minas de minério de ferro chinesas são deficitárias, mas a maioria das que estão fora do país são rentáveis. Se os preços caírem o suficiente para fechar uma das quatro grandes produtoras não-chinesas, o déficit de oferta resultante disso seria suficiente, até mesmo no clima atual de demanda fraca, para restringir o mercado e provocar uma recuperação.

Não é necessário um conluio, no fim das contas, para que exista um mercado oligopolista. Desde que o número de grandes operadores seja suficientemente pequeno, adivinhar o comportamento dos demais produtores pode ser suficiente para manter o controle.

Nada disso garante que os preços de alguma das commodities não cairá em relação aos seus níveis atuais. Mas aqueles que apostam em um declínio que prejudicará as finanças das produtoras de commodities não deveriam considerar que todas as commodities são iguais. Uma queda no preço capaz de empurrar as produtoras de petróleo ainda mais para o vermelho ainda poderia deixar as produtoras de minério de ferro no azul.

Essa coluna não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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