Por Fabiola Moura e Paula Sambo.
Foi bom enquanto durou. Os varejistas brasileiros divulgaram resultados que superaram as estimativas dos analistas no último trimestre, em grande parte devido a um estímulo de R$ 44 bilhões do governo. Agora, o setor está debatendo como manter o ritmo.
“Esta injeção de liquidez na economia foi muito boa”, disse Frederico Trajano, CEO da Magazine Luiza, em entrevista por telefone. “O governo precisa de outras medidas como essa, que não são tão caras, e injetar dinheiro na economia, porque precisamos disso para sair da recessão.”
Seis de oito empresas brasileiras de varejo negociadas em bolsa divulgaram vendas acima do previsto, segundo dados da Bloomberg. A Via Varejo subiu e atingiu o patamar mais elevado em mais de dois anos na semana passada após anunciar vendas melhores que o esperado, tanto nas lojas físicas quanto on-line. A ação do Magazine Luiza continuou batendo novos recordes após um aumento de 24% nas vendas das mesmas lojas e anunciou planos de desdobramento de ações para aumentar sua liquidez. Os dois varejistas creditaram os resultados em parte ao dinheiro liberado do FGTS.
Os brasileiros foram autorizados a sacar recursos de contas inativas do FGTS – o que antes era limitado – como parte de um pacote de estímulo à economia anunciado em dezembro pelo presidente Michel Temer para ajudar a acabar com dois anos de recessão. Até final de julho, mais de R$ 44 bilhões já haviam sido sacados, contribuindo para um aumento de 2,5% nas vendas do varejo após nove trimestres consecutivos de contração, segundo a Rosenberg Consultores Associados. As taxas de juros mais baixas e a melhora marginal do emprego também ajudaram, afirmou a empresa.
“Era difícil prever se as pessoas economizariam ou gastariam o dinheiro”, disse Evandro Buccini, economista da Rio Bravo Investimentos, uma gestora com R$ 10 bilhões em ativos. “O efeito tanto no consumo quanto na desalavancagem foi maior que o esperado e embora ainda tenha sobrado um pouco para os próximos meses, a maior parte já foi sentida.”
Criado em 1966, o FGTS foi projetado como um fundo de indenização para os trabalhadores brasileiros. Todos os meses, os empregadores depositam 8 por cento do salário dos funcionários em contas individuais. Devido às mudanças de emprego, os trabalhadores acabam ficando com várias contas. Apenas a conta do emprego atual é considerada ativa. Normalmente, o acesso é limitado a situações específicas, como doença terminal ou compra de residência. Temer liberou o dinheiro de contas que estavam inativas até dezembro de 2015.
Sem precedentes
“Foi sem precedentes a decisão do governo de entregar dinheiro às pessoas, que estavam bastante alavancadas e em um momento delicado”, disse Buccini. “É possível que evitemos uma queda do PIB no terceiro trimestre em parte devido à liberação do FGTS.”
O governo deveria resistir à tentação de permitir saques regulares do fundo para estimular a economia, disse Rafael Menin Teixeira de Souza, co-CEO da MRV Engenharia e Participações, construtora especializada em moradias para pessoas de baixa renda. Isso enfraquece o programa e comprometeria o financiamento imobiliário residencial no longo prazo.
“O FGTS não deveria ser sacado para comprar geladeiras”, disse Menin em entrevista. “Uma geladeira dura muito menos do que uma casa.”
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