Wall Street já teme menos a negociação eletrônica de títulos

Por Matthew Leising.

São poucas as constantes em Wall Street. Mas além da temporada de bônus e das mesas vazias em agosto, todo ano se vê que os traders estão mais confiantes em vender e comprar títulos corporativos eletronicamente.

Foi esta a conclusão de uma nova pesquisa da Greenwich Associates, que perguntou a operadores de títulos de dívida nos EUA e Europa se a negociação via computadores representa um risco à atuação deles. A parcela dos que responderam afirmativamente caiu pela metade desde 2015.

Causas externas estão por trás da mudança, de acordo com Kevin McPartland, o responsável por pesquisa de estrutura de mercado da Greenwich Associates que escreveu o relatório baseado na sondagem.

Os profissionais de bancos enfrentam novidades regulatórias que reduziram a capacidade de comprar tantos títulos quanto desejam e, sendo assim, eles preferem executar operações menores eletronicamente a perder o negócio totalmente, ele afirmou.

“De algumas formas, a negociação eletrônica é a melhor opção depois do modo como eles faziam as coisas nos velhos tempos”, disse McPartland em entrevista. “Eles não amam, mas estão aceitando.” As transações de varejo nesse mercado — em geral caracterizadas como ordens abaixo de US$ 1 milhão — estão totalmente eletrônicas, portanto os ganhos com venda e compra computadorizada de instrumentos estão vindo de investidores institucionais, afirmou McPartland.

Aproximadamente 20 por cento de todas as transações são feitas totalmente via computadores, mas o analista acha que apenas um terço do mercado se tornará plenamente eletrônico. “Vai ser difícil passar disso” porque, nas transações de maior valor, os investidores institucionais querem conversar com corretores, que podem oferecer maior apoio e evitar que o mercado perceba a posição do cliente, ele explicou.

A aceitação dos computadores no mercado de títulos tem sido bem mais lenta do que nos mercados de futuros e ações porque os títulos corporativos não se prestam tanto à negociação eletrônica. Porém, há sinais de mudança gradual.

O sistema de negociação de títulos e derivativos Tradeweb Markets — que tem entre seus controladores o Goldman Sachs Group e o JPMorgan Chase — abocanhou 1 por cento das negociações eletrônicas no mercado dos EUA. Embora a parcela seja mínima, isso mostra que a firma está ganhando espaço, um feito raro para startups que pretendem enfrentar o status quo. Diversas firmas tentaram popularizar a negociação de títulos via computador: Goldman Sachs, BlackRock, MarketAxess Holdings, DirectPool e um punhado de consórcios liderados por bancos e batizados com códigos como Oasis e Neptune. Seu sucesso foi limitado, em parte porque as instituições temem enfraquecer um segmento lucrativo se a negociação desses ativos mudar demais.

A pesquisa da Greenwich concluiu que 21 por cento das instituições que negociam títulos enxergam a negociação eletrônica como ameaça, comparado a uma parcela de 46 por cento em 2015. No mesmo período, a parcela de profissionais que afirmaram ver a negociação eletrônica como oportunidade aumentou de 54 por cento para 58 por cento. A consultoria de serviços financeiros entrevistou 46 traders de renda fixa e executivos de vendas durante o segundo trimestre.

“Enquanto os grandes bancos estão mais preocupados com o aumento dos custos e o balanço patrimonial limitado, as preocupações regulatórias são particularmente agudas para instituições médias”, escreveu McPartland no relatório. Três entre quatro instituições regionais afirmam que seu maior desafio no próximo ano é cumprir novos regulamentos, apurou McPartland.

Entre em contato conosco e assine nosso serviço Bloomberg Professional.

Agende uma demo.