Olhando além dos modelos de risco

Gestores de carteira em empresas de serviços financeiros enfrentam restrições regulatórias e de mercado cada vez mais complexas quando eles tentam atender a constante busca do gestor/empresa em gerar alfa. Ao fazê-lo, gestores de carteiras têm obrigado gestores de risco a olhar além dos modelos de risco como o meio mais eficaz de analisar risco e determinar o apetite de risco de uma empresa.

Enquanto o modelo de risco padrão serve muitos propósitos, tais como predizer a variabilidade dos retornos e da agregação de riscos em carteiras diferentes, ele atingiu os seus limites, diz Adam Litke, chefe de soluções de risco na Bloomberg LP. Litke palestrou em uma conferência de risco da Bloomberg em Nova York no mês passado.

Já severamente limitada pelos dados em que se baseia, a modelagem é ainda mais prejudicada, pois não permite a inclusão de eventos, diz Litke. Estas deficiências tornam a modelagem inadequada para contar a história de como uma empresa pode ter problemas graves. Em última análise, testes de estresse por meio de cenários são superiores à modelagem por revelar padrões e pistas necessárias para mapear a história de risco de uma empresa, diz ele.

Litke diz que antes das empresas embarcarem em um teste de estresse adequado, os administradores da empresa, incluindo gerentes de risco, devem começar com um cenário do pior caso em que a empresa quer sobreviver. Por exemplo, os bancos e outras empresas de investimento, tais como fundos de pensão, devem refletir sobre como suportar graves crises de mercado sem liquidez dos ativos, crescimento negativo do PIB, picos de desemprego e níveis de inadimplência concomitantes para empréstimos, diz ele.

“A primeira coisa que precisamos fazer ao criar um teste de estresse é se certificar de que é ruim e plausível”, diz Litke. “Então precisamos transformar nosso cenário nos parâmetros que orientam nossa carteira”.

Para as etapas do teste de estresse, Litke sugere que as empresas criem uma lista de cenários preocupantes, e então usá-los para formular parâmetros. Por exemplo, uma empresa pode passar a Grande Recessão de 2007-8 pelos seus modelos de risco, o que levaria instrumentos a serem reavaliados e perdas simuladas na carteira.

Mas as empresas não podem parar por aí.

Durante sua apresentação em nosso evento, Litke disse que sabe o quanto pode ser perdido em um teste de estresse que não seja suficiente para gerir o risco. Para ilustrar seu ponto, ele citou o exemplo de um calote de mutuário de crédito imobiliário em uma casa de US$ 1 milhão, que teve uma entrada de 20%.

Se a casa está avaliada em US$ 800.000, então o banco não vai perder dinheiro com o empréstimo, ressalta Litke. No entanto, se a casa vale menos de US$ 800.000, então, o banco perde dinheiro, um-por-um com o valor da casa. Para complicar as coisas, o fato é que “o valor da casa pode ser uma aposta alavancada na economia”, diz ele.

O PIB é um sinal de onde a economia está se dirigindo, pequenas mudanças para cima ou para baixo terão um forte impacto sobre os preços das casas, diz Litke. Por exemplo, se um PIB que desloca para baixo de 0% para -1% prova ser muito mais complicado para o banco do que uma queda de crescimento de 1% para 0%, então existem fatores escondidos. “Isto significa que as perdas com o empréstimo podem acelerar a medida que a economia piora”, diz ele, exemplificando que o risco é não-linear.

Durante uma crise, um banco pode ir de “sem perdas para perdas moderadas para perdas extremas”, diz Litke, citando as previsões de perdas com empréstimos, que caíram de um penhasco com a piora da crise habitacional durante a crise financeira do início de 2008. Nesse caso, quando a economia estava se movendo a níveis críticos, inadimplências dispararam, os preços de habitação se desvalorizaram rapidamente e carteiras de empréstimos entraram em colapso, diz ele. Um cenário de teste de estresse bem gerido poderia capturar espirais decrescentes ocultas, não-lineares, permitindo que a empresa se preparasse para eles.

No caso da hipoteca em inadimplência, testes adicionais construídos antes do evento de estresse – uma queda nos preços das casas de 20% – podem ajudar uma empresa a discernir os impactos completos de preços adicionais… Se os sucessíveis testes de estresse grandes mostram perdas significativamente aceleradas com cada queda percentual sucessiva, então, a carteira contendo a hipoteca não é segura e há um “risco escondido” na carteira que pode levar a grandes perdas para o banco, diz Litke. Assim, uma investigação mais aprofundada será necessária para descobrir o problema.

A principal vantagem de realizar testes de estresse complexos é o esclarecimento que ele traz para definir o apetite de risco de uma empresa, e definir os riscos efetivos de uma empresa. Há também uma nova clareza que vem dos tomadores de risco que podem explicar aos proprietários do risco qual poderia ser a sua desvantagem em uma linguagem simples, diz Litke.

Os tomadores de risco provavelmente vão apreciar testes de estresse uma vez que eles estão ansiosos para saber a quantificação das desvantagens, acrescenta Litke. Isso irá ajudá-los a apresentar um apetite de risco consistente em carteiras e fundos, o que deve mantê-los no jogo por mais tempo.

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