Mercado agrícola gera êxodo de executivos de empresas

Por Agnieszka de Sousa e Andy Hoffman com a colaboração de Isis Almeida, Javier Blas e Shruti Date Singh.

O sucesso dos agricultores modernos se transformou na infelicidade dos traders das maiores comercializadoras agrícolas do mundo.

Os lucros estão diminuindo porque anos de safras enormes reduzem a volatilidade e as oportunidades de negociações, obrigando as empresas a apertarem os cintos. Tradings de commodities como a Cofco International reorganizaram suas unidades agrícolas neste ano, provocando a saída de vários diretores de divisão. Alguns foram tentar a sorte em outra parte e outros jogaram a toalha e se aposentaram.

“O mercado mudou”, disse Miroslaw Marciniak, consultor da InfoGrain em Varsóvia e ex-trader de grãos. “Os resultados já não são mais os de antes. Isto leva as empresas a procurarem reduzir os custos e a economizar. Há pressão e nem todos conseguem aguentar isso.”

Pelo menos 40 gerentes e executivos seniores em agricultura deixaram seus cargos em tradings de commodities como a Archer-Daniels Midland e a Louis Dreyfus neste ano, com base em um cálculo de notícias publicadas pela Bloomberg. Embora em muitos casos essas vagas tenham sido preenchidas, o fenômeno representa uma mudança de cargos sem precedente.

A agricultura responde por quase metade de todas as mudanças de emprego em commodities neste ano, em comparação com outros setores como petróleo, metais e gás e energia, de acordo com a empresa de recrutamento Commodity Appointments.

Condições desfavoráveis

Pode haver muitos motivos para a movimentação de pessoas — como redução de custos nas empresas, desacordos sobre estratégia ou escolhas pessoais –, mas isso está ocorrendo no contexto de condições de trading mais duras. Ao mesmo tempo, um melhor armazenamento agrícola e uma maior disponibilidade de dados sobre o mercado significa que produtores e consumidores podem fazer transações cada vez mais favoráveis à custa de comerciantes maiores.

O setor, dominado há um século pelo quarteto “ABCD” — ADM, Bunge, Cargill e Louis-Dreyfus — foi obrigado a realizar mudanças abrangentes. As empresas recorreram à venda de ativos, ao trading em mercados de nicho e até mesmo ao processamento de carne para gerar mais dinheiro. Os executivos estão pressionando mais os traders para que eles gerem lucros, e isso está ficando cada vez mais difícil, disse Marciniak.

As mudanças na agricultura refletem, em certa medida, as que foram vistas no setor de metais industriais alguns anos atrás, quando a agitação com a desaceleração da China e com a queda dos preços afetou várias empresas, da Noble Group até a Trafigura Group. Em contraste, os traders de petróleo saíram em grande parte ilesos da depressão dos preços que começou em 2014, em parte devido à volatilidade dos preços e a uma estrutura do mercado chamada “contango”, que permitiu que os traders garantissem lucros comprando e armazenando petróleo para vendê-lo a preços mais altos no futuro.

“Começou uma época difícil para o conjunto das traders agrícolas, mais provavelmente para as traders de grãos do que para as de energia e metais”, disse Philippe Chalmin, professor de História Econômica da Universidade Paris-Dauphine que estuda traders de commodities há quatro décadas. “Agora estamos em um mercado muito morno. O tempo de expansão é mais limitado.”

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