Com cartões de crédito cobrando 500%, Nubank parece bom negócio

Por Jonathan Levin, Denyse Godoy e Christiana Sciaudone.

Para os brasileiros, que encaram taxas de juros de quase 500 por cento em seus cartões de crédito, pode haver esperança.

É o que diz David Vélez, fundador da Nubank, uma startup da internet com sede em São Paulo e apoiada pelas firmas de capital de risco Tiger Global Management e Sequoia Capital.

A empresa de Vélez está tentando se firmar na maior economia da América Latina oferecendo taxas mensais de 7,75 por cento. Ainda são 145 por cento em uma base anual — nenhuma pechincha, se considerado o padrão dos mercados desenvolvidos –, mas cerca de um terço da taxa oferecida por líderes do setor bancário, como o Itaú Unibanco Holding SA e o Banco Bradesco SA. A taxa fixa média de um cartão de crédito nos EUA é de 13,4 por cento, uma fração da cobrada no Brasil, segundo os dados mais recentes do Bankrate.com.

Vélez, um ex-associado sênior da firma de private-equity General Atlantic LLC, diz que a falta de concorrência é a culpada pelas taxas estratosféricas. Se isso for verdade, o problema está prestes a piorar, pois o Bradesco comprou as operações brasileiras do HSBC Plc neste ano, deixando quatro players no controle de cerca de 80 por cento dos ativos do setor.

Mercado ‘fora do lugar’

“Alguma coisa está realmente fora do lugar por aqui”, disse Vélez, 33, em entrevista concedida em seu escritório em São Paulo. “Em um mercado competitivo, você não veria essas taxas de juros”.

As taxas da Nubank não são monitoradas porque o Banco Central acompanha apenas as instituições bancárias. Firmas de pagamentos como a Nubank operam por meio de um tipo diferente de licença. A empresa não possui agências, só um aplicativo de smartphone, e pretende que sua folha de pagamentos continue representando uma fração em relação às de seus rivais maiores. A empresa oferece aos seus usuários um Platinum Mastercard, que eles monitoram e pagam por telefone, um produto voltado aos clientes mais jovens. O usuário médio tem 28 anos, disse Vélez.

Esse é um modelo que ganhou alguns fãs entre as firmas de capital de risco. Doug Leone, sócio da Sequoia, por exemplo, o chama de “proposta de valor atraente”. A Sequoia e a Tiger injetaram US$ 30 milhões neste ano, disse Vélez, que preferiu não revelar a participação obtida pelos investidores em troca.

Para o futuro, a Nubank planeja levantar caixa por meio dos chamados FIDCs, um tipo de empréstimo securitizado popular no Brasil.

Leque de taxas

Vélez disse que já foram abertas 150.000 contas e que o número de usuários vem crescendo cerca de 60 por cento ao mês. A essa taxa, a empresa poderá atingir sua meta de 1 milhão de clientes — ou 1 por cento do mercado — no ano que vem. Vélez não informou uma previsão específica.

Há uma ressalva, claro: os bancos brasileiros podem cobrar cerca de 500 por cento ao ano, mas isso não significa que os tomadores de empréstimos estejam pagando isso. Muitos usuários de cartões de crédito zeram suas contas mensalmente, mesmo se expostos às taxas relativamente baixas da Nubank, disse Vélez. Os bancos, por sua vez, dizem que oferecem um leque de taxas.

“O Itaú Unibanco oferece produtos em seu portfólio que se ajustam ao estilo de vida, às necessidades do consumidor e ao perfil econômico de cada um dos clientes”, disse o banco, em resposta por e-mail a um pedido de comentário. “Essa diversidade nos nossos produtos é refletida nas taxas de juros, que são ajustadas para cada produto e perfil de cliente e partem de 3,41 por cento ao mês”.

O Bradesco disse, em resposta enviada por e-mail, que suas taxas de juros vão de 2,14 por cento a 15 por cento.

A Nubank ganha cerca de 1 por cento por transação dos estabelecimentos comerciais, o que Vélez disse ser suficiente para ajudar a empresa a gerar um lucro positivo antes de juros, impostos, depreciação e amortização dentro de um ou dois anos.

As startups de tecnologia estão “modificando” mercados como varejo, mídia e transporte, disse Vélez. “Não há nenhuma razão pela qual as empresas de tecnologia não possam modificar os bancos tradicionais”.

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