Incerteza política pesa mais do que juros do Fed

Notícia exclusiva por Josué Leonel.

A reunião do Fed nesta semana encontra o mercado dividido, com economistas esperando uma alta da taxa americana e operadores apostando em estabilidade. Este é o principal evento para a economia mundial e encontra o Brasil fragilizado, com economia em recessão, déficit nas contas públicas e o risco de impeachment da presidente Dilma ampliando ainda mais a incerteza dos investidores.
 

9-14-2015 1-59-13 PM

 
Embora uma eventual alta dos juros americanos tenha potencial de afetar os mercados, não há consenso sobre o tamanho e a duração do impacto. Vale lembrar que o mercado já vem se adaptando a uma política mais conservadora do Fed desde 2013, quando o então presidente do BC americano Ben Bernanke anunciou o processo de redução dos estímulos. A alta dos juros, esperada para entre a reunião desta semana e dezembro, seria apenas uma nova fase no processo de normalização da política monetária dos EUA.

A alta dos juros americanos está em grande parte precificada nos mercados, diz o economista Flavio Serrano, do banco de investimentos Haitong. Para ele, o mercado ainda deverá ‘sentir‘ quando a taxa efetivamente subir, mas será um impacto de curto prazo.

O risco maior para o mercado brasileiro continua vindo do cenário doméstico. O quadro de turbulência política, que já dificulta a aprovação de medidas do ajuste, poderá ficar ainda mais incerto se for aberto um processo de impeachment de Dilma Rousseff. Além da própria dúvida sobre se a presidente conseguiria ou não sobreviver, haveria ainda a incerteza sobre quem seria o novo presidente, quem formaria sua equipe econômica e, mais relevante, se teria a capacidade política que Dilma não tem demonstrado para implementar um duro programa de ajuste.

Ainda que o impeachment não prospere, isso não quer dizer que a situação vai melhorar significativamente, diz Serrano. Ele lembra que o governo tem tido dificuldade até mesmo para aprovar medidas de ajuste mais pontuais. No entanto, vai ficando cada vez mais claro que será impossível manter o orçamento equilibrado e estimular o crescimento sem reformas mais profundas, como as da Previdência e a tributária, além da diminuição da rigidez do orçamento, para ampliar o espaço para investimentos.

O histórico do desempenho do câmbio durante processos de alta dos juros americanos mostra que, ao contrário do que diz o senso comum, o impacto após o Fed começar a mover a taxas é pequeno ou mesmo inexistente. Em parte, isso se deve ao fato de os investidores anteciparem o movimento. Outra razão é que, em algumas situações, o cenário doméstico ou outros fatores externos, como o crescimento da China, acabam imperando, como ocorreu em 2004.

Na última vez em que o Fed subiu os juros, o real, em vez de se desvalorizar, acabou se fortalecendo. Isso se deveu primordialmente a dois fatores. Primeiro, o governo Lula, iniciado um ano antes, havia conquistado a confiança dos investidores, ao elevar o superávit primário e subir os juros contra a inflação. O segundo fator positivo veio da China, que crescia mais de 10% e impulsionava o crescimento das exportações mesmo com o dólar em queda contra o real.

Pouco mais de 10 anos depois, o Brasil vive situação oposta. Enquanto no exterior a China desacelera e não faz mais o contraponto aos EUA, no plano doméstico o governo perdeu a capacidade de agir na contramão dos choques externos.
 

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