3G tem sede de acordos mas pode não levar a Pepsi

Tara Lachapelle

Foram reacesas as especulações de que a 3G Capital vai abocanhar a PepsiCo, avaliada em US$ 162 bilhões, porque já está sem opções dentro da Kraft Heinz e recentemente azedou a possibilidade de comprar a Unilever. Porém, existem alguns obstáculos a este acordo ambicioso.

A 3G, firma de private equity brasileira comandada por Jorge Paulo Lemann, fez da Kraft Heinz o negócio mais eficiente do setor de alimentos. Após cortes de custos extremos – que passaram por demissões e economias em viagens –, as margens da Kraft Heinz são impressionantes, mas talvez tenham chegado ao pico. E o crescimento da receita é fraco ou inexistente de um trimestre para outro. O caminho para a gigante de ketchup, avaliada em US$ 112 bilhões, manter os níveis de retorno aos acionistas seria acrescentar outro negócio à mistura. A Unilever esteve no topo da lista de compras, mas a notícia sobre conversas muito preliminares vazou e o conglomerado europeu deu para trás.

Já escrevi sobre quais empresas de alimentos – a General Mills, por exemplo – poderiam ser um bom par para a Kraft Heinz e porque essa janela de oportunidade está se estreitando. Porém, mais recentemente, a Pepsi foi considerada nova candidata favorita a um acordo gigantesco, triplo e complexo que colocaria o negócio de salgadinhos Frito-Lay sob controle da Kraft Heinz e as marcas de refrigerantes nas mãos da controladora da Budweiser, a Anheuser-Busch InBev. (Pablo Zuanic, da Susquehanna Financial Group, escreveu sobre isso em relatório de pesquisa divulgado na quarta-feira). Em sua atual encarnação, a AB InBev foi formada por personagens da 3G e se depara com cada vez menos oportunidades no mercado de cerveja.

Estes são alguns obstáculos dignos de consideração:

  1. O fator Buffett – A formação da Kraft Heinz foi viabilizada por um amigo de Lemann, Warren Buffett. A companhia dele, Berkshire Hathaway, apoiou as transações. Outro grande acordo envolvendo um alvo do porte da Pepsi dependeria novamente do apoio de Buffett. Porém, ele conhecidamente tem um sentimento de apego à maior rival da Pepsi, a Coca-Cola.

    Buffett vendia garrafas de Coca de porta em porta quando era menino e é hoje o maior acionista da empresa. Ele gosta tanto do produto que seu rosto estampa latinhas de Cherry Coke na China.

    Buffett diz que sua posição é “mais ou menos um quarto Coca-Cola”.

    Curiosamente, seu filho Howard Buffett decidiu sair do conselho da Coca, efetivamente a partir deste mês. Isso alimenta especulações de que Buffett esteja se preparando para um negócio envolvendo 3G e Coca ou 3G e Pepsi. Mas, na prática, Buffett só poderia ajudar se a transação se aplicar às marcas de salgadinhos da Pepsi, não de refrigerantes.

  2. Reversão? – Há apenas alguns anos, a Kraft se separou das marcas de guloseimas, incluindo os biscoitos Oreo e os chocolates Cadbury. Esse negócio agora se chama Mondelez International — curiosamente também outra empresa sobre a qual se especula um acordo com a Kraft Heinz. A justificativa para a separação foi que os investidores queriam ações mais simples e que os negócios de comidas e guloseimas da Kraft na América do Norte tinham diferentes perspectivas de crescimento e necessidades de investimento. A compra da Frito-Lay (ou Mondelez) anularia a separação original da Kraft. Assim, os bancos sairiam ganhando com a reorganização externa dos ativos.
  3. Dívidas da AB InBev – O momento é crítico. A Kraft Heinz parece pronta a entrar de cabeça no próximo acordo, mas a AB InBev não pode simplesmente comprar a divisão de refrigerantes da Pepsi. A empresa deve US$ 123 bilhões – excluindo o caixa, o valor é cinco vezes maior do que o lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA) que os analistas projetam para a cervejaria neste ano. A administração da AB InBev afirma que a estrutura ótima de capital seria uma razão de alavancagem líquida de 2, portanto há muito chão pela frente até a empresa poder voltar a brincar com acordos gigantescos.
  4. Apoio de Nooyi – A ideia de desmembramento da Pepsi já foi aventada pelo investidor ativista Nelson Peltz. A presidente da Pepsi, Indra Nooyi, consegui afastá-lo. Ela também critica a engenharia financeira e a realização de acordos pelo acordo em si. Não está claro se Nooyi apoiaria a venda da Frito-Lay para a 3G ou a empresa toda.

    Há um acordo no horizonte da Kraft Heinz e parece quase inevitável que as forças do setor e do mercado empurrem a Pepsi para alguma transação em algum momento. Mas ainda há muitos obstáculos impedindo que essas forças se juntem no futuro próximo.

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