A odisseia fiscal da Grécia: Forçando os limites contra [br]as medidas de austeridade.

em>Por Maria Petrakis.

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O primeiro ministro grego Alexis Tsipras assumiu o poder em janeiro na promessa de mudar as medidas econômicas que fizeram a economia retrair em um quarto, os gregos viram mais de um milhão de empregos desaparecer e levaram milhares de gregos para baixo da linha de pobreza. Seu partido de esquerda, o Syriza, conseguiu apoio de gregos exaustos depois de cinco anos de austeridade em troca de empréstimos necessários para prevenir que o país entrasse em colapso financeiro quando anos de gastos escondidos vieram à tona.

A batalha das finanças se intensificaram, com Tsipras batendo de frente com os europeus que financiaram os dois resgates do país. Os novos líderes da Grécia foram rapidamente forçados a voltar atrás sobre algumas de suas maiores promessas, como cancelar o pagamento de 320 bilhões de euros em dívidas. Mas eles ficaram presos em meio a condições mais rigorosas dos credores do país, mesmo com a volta da recessão e a saída de euros dos bancos. Com o conflito chegando a um limite no final de junho, com abandono de conversas e fechamento dos bancos do país, o status como membro da zona do euro parecia mais ameaçado do que nunca.

A situação

Cinco meses de conversas cada vez mais amargas com os credores gregos acabaram no dia 26 de junho quando Tsipras finalizou as discussões e anunciou um referendo no dia 5 de julho. Os cidadãos gregos deverão decidir se aceitam mais medidas de austeridade em troca de auxílio, e Tsipras advoga para o lado do “não”.

Para evitar o colapso do sistema financeiro, a Grécia impôs controle decapitais e fechou seus bancos depois que o Banco Central Europeu recusou aumentar seu auxílio emergencial, mesmo que retiradas tenham colocado os bancos na corda bamba. Tsipras também pediu que credores estendessem o programa de resgate, estabelecido para acabar no dia 30 de junho, até o referendo, mas foi negado. Até esse ponto, a Grécia havia mantido o governo seguro atrasando o pagamento de dívida ao Fundo Monetário Internacional, tornando-se o primeiro país desenvolvido a fazer isso.

Mesmo antes do fechamento dos bancos, a desaceleração nos rendimentos dos impostos e um aumento das retiradas nos bancos deixou a economia faminta por fundos, e levou a Grécia novamente à recessão. –Um sentimento de rancor cresceu quandoos parceiros do país na zona do euro, liderados pela Alemanha, insistiram que a Grécia cortasse aposentadorias e aumentasse impostos para manter o auxílio. Ainda assim, os dois lados vinham tendo progressos significativos a respeito de suas diferenças quando a quebra do diálogo aconteceu, surpreendendo muitas pessoas. Mesmo uma tentativa de última hora de Tsipras para retomar as negociações foi rejeitada.

 

 
O pano de fundo

A vitória do Syriza em janeiro de 2015 marcou o final de uma era de 40 anos de duração na qual o partido conservador Nova Democracia e o socialista Pasok alternaram o poder depois da expulsão de uma junta militar. A competição dos partidos por votos levou a uma farra de gastos financiada por dívidas internacionais enquanto florescia a evasão fiscal. Em 2009, o filho de Papanderou, George, chegou ao poder e revelou uma dívida que era de quatro vezes a cifra permitida pelas regras do euro. Nessa ocasião, a Grécia recebeu um total de 240 bilhões de euros em fundos da União europeia e do FMI. Credores privados também foram forçados a amortizar 100 bilhões de euros em bonds privados.

Em troca, além de cortes de gastos, os credores do país pressionaram por uma reformulação geral, desde regras trabalhistas até licenciamento para taxistas. Em 2013, o país atingiu um superávit orçamentário antes de pagamentos de juros, uma das condições estabelecidas para possíveis concessões à sua dívida, que cresceu para mais de 170% do PIB , já que o país pegou mais dinheiro emprestado e ao mesmo tempo a economia encolheu. Em 2014, o desemprego dos jovens, que tinha máxima de 60%, caiu, mas apenas para 51%, enquanto o desemprego geral permaneceu em 26%.

Syriza assumiu o poder depois que o ex-primeiro-ministro, Antonis Samaras do Nova Democracia, forçou novas eleições na esperança de ganhar concessões dos credores. Samaras começou o mandato depois que o apoio de George Papandreou ao resgate lhe custou a maioria.
 

 
O argumento

Mesmo os gregos exauridos da austeridade não querem desistir do euro, de acordo com pesquisas. Mas os credores do país assumiram uma postura inflexível no perdão da dívida e no relaxamento das medidas pelos quais pede Syriza. Muitos economistas concordam com Tsipras: a dívida do país é muito grande para ser paga, ainda que haja muito menos apoio a suas novas medidas populistas como eletricidade gratuita.

Seu argumento de que a austeridade piorou a situação ao invés de melhorar fez sentido para o público, mas para muitos gregos seu apelo principal é que ele não é um dos rostos mais familiares do país. O espaço de manobra de Tsipras foi limitado por um sentimento crescente entre algumas pessoas de seu partido de que a economia do país – e a dignidade – seria impulsionada por uma ruptura com os credores, ainda que isso possa ser doloroso no curto prazo.

Para os países mais ricos ao norte, principalmente a Alemanha, a Grécia é um gasto excessivo que não realizará reformas sem pressão contínua. Para muitos gregos, os esforços atingiram os limites – ou mesmo a loucura – da austeridade imposta ao país e em outras economias em dificuldades como Portugal, Espanha, Irlanda e Itália.

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