Por Gregor Stuart Hunter.
Se o banco central dos EUA apertar demais a política monetária, as primeiras vítimas serão as maiores ganhadoras do mercado acionário nos últimos tempos, acredita o Bank Julius Baer. Quem está a perigo são as ações de gigantes de tecnologia.
O crescimento econômico robusto fará com que o Federal Reserve continue subindo os juros, mesmo se o aperto remover mais liquidez do que os mercados financeiros conseguem tolerar, disse Yves Bonzon, diretor de investimentos do Julius Baer. Isso poderá levar a uma queda de 20 por cento do S&P 500 antes que as perdas das bolsas levem o banco central a moderar as medidas, acrescentou.
“Fazia tempo que eu não ficava tão nervoso como agora porque acho que estamos nos aproximando desse ponto”, afirmou ele durante conversa com a imprensa em Hong Kong, na segunda-feira, se referindo ao momento em que o aperto pelo Fed começará a causar reversão nos preços das ações. “Quem mais se beneficiou da expansão da liquidez será a maior vítima, independentemente de seus fundamentos.”
Para Bonzon, a interação entre dados econômicos e as cotações das FANG – grupo de formação inexata que costuma incluir Facebook, Apple, Amazon.com, Microsoft, Netflix e Alphabet (dona do Google) – é a melhor forma de avaliar se as condições de liquidez representam risco para o mercado como um todo. O banco suíço vem reduzindo as apostas em ações dos EUA, embora essa alocação ainda seja “modestamente” maior, disse ele.
O S&P 500 bateu diversos recordes neste ano mesmo em meio a elevações de juros pelo Fed. Porém, o avanço é ameaçado pela alta dos rendimentos dos títulos do Tesouro americano e pelas potenciais consequências econômicas da guerra comercial entre EUA e China. O pico do NYSE FANG+ Index foi atingido em junho — três meses antes da máxima do mercado como um todo — e o índice caiu 13 por cento de lá para cá.
Bonzon admitiu que medidas regulatórias visando empresas de tecnologia atrapalharam a eficácia da análise dele, tanto nos EUA quanto na China. O Facebook está sob fogo cruzado após revelar no mês passado que até 50 milhões de contas foram comprometidas na maior falha de segurança da história da rede social. Na China, o governo apertou o cerco à indústria de videogames devido ao vício da população jovem nos jogos.
No ano passado, o Julius Baer começou um estudo para decidir se ações chinesas deveriam ser uma “classe de ativos central” a ser recomendada aos investidores, do mesmo modo que as ações americanas, revelou Bonzon.
Acontecimentos recentes convenceram o diretor do banco a pausar essa análise.
O banco agora tenta saber se o governo chinês “ainda é favor de uma economia de mercado e do empreendedorismo privado” ou se está retrocedendo na direção de um modelo mais estatal e de planejamento centralizado, colocou Bonzon. A segunda opção pode sabotar o sucesso de longo prazo do país e tornar as ações chinesas menos atraentes, disse ele.
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