Por Josue Leonel com a colaboração de Aline Oyamada, Davison Santana e Simone Iglesias.
O mercado brasileiro volta a se estressar com o risco de o governo ter de adiar para 2018 a votação de reforma da Previdência. O adiamento visaria evitar o risco de derrota, dado que o governo ainda não tem os votos necessários. O problema, para o investidor, é que não votar agora significaria estender por no mínimo mais dois meses as incertezas sobre uma reforma tida como crucial para reduzir o déficit primário de mais de R$ 180 bilhões e salvar o país de mais um rebaixamento de rating às vésperas da eleição.
O receio do investidor é que, caso o governo termine 2017 sem a votação da reforma ao menos iniciada na Câmara, o cenário fique ainda mais difícil para 2018, quando os políticos tendem a voltar do recesso de fim de ano com o foco nas eleições e menos propensos a votar medidas impopulares, diz Italo Lombardi, estrategista de mercados emergentes do Credit Agricole. “A cabeça do congressista em 2018 tende a estar voltada para se reeleger.”
A reação dos investidores ganha ainda mais importância depois de o presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, ter explicitamente apontado que uma frustração com a continuidade da reforma pode afetar os prêmios de risco e elevar a trajetória para a inflação. Até agora, o comportamento favorável dos preços, especialmente dos alimentos, aponta que o IPCA deve fechar o ano abaixo do piso da meta, de 3%, o que deu tranquilidade para a redução da Selic até piso histórico de 7%, na última reunião do Copom. Agora, um nervosismo mais acentuado nos mercados poderia determinar o encerramento do ciclo de cortes der juros.
Nesta terça, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, disse que não vai colocar a reforma em votação na base do ”tudo ou nada”, ou seja, sem ter os votos suficientes para aprovação. Por sua vez, o presidente Michel Temer, ainda não desistiu de votar este ano e teme que o fracasso da reforma fortaleça a oposição nas eleições de 2018, segundo disseram à Bloomberg duas fontes em Brasília sob condição de anonimato.
“É difícil o mercado se acalmar porque há muita incerteza. A cada momento sai uma notícia diferente sobre a reforma”, diz Lombardi, do Credit Agricole. A alta do dólar leva a moeda a caminhar para o maior fechamento desde 23 de junho, cerca de um mês depois do estouro do escândalo da delação da JBS, enquanto os juros futuros mais longos são pressionados.
Para Lombardi, a alta atual do dólar já é compatível com um cenário de não-aprovação da reforma, embora ele não descarte alguma valorização adicional da moeda. Erik Nelson, estrategista de câmbio da Wells Fargo Securities em Nova York, também vê como limitado o espaço para ganhos adicionais do dólar, uma vez que já houve grande saída de investimentos em portfolio nos últimos trimestres. Para ele, a pressão cambial é causada pela incerteza sobre a Previdência combinada com a alta dos juros dos títulos americanos.
Para Thiago Vidal, analista da consultoria Prospectiva em Brasília, seria melhor o governo adiar a reforma do que arriscar agora com chances escassas de vitória. No entanto, ele considera que o cenário para a Previdência também continuará difícil no próximo ano.
Os deputados entram em recesso antes do Natal e só voltam à Câmara no começo de fevereiro, sendo que logo em seguida o Carnaval volta a interromper os trabalhos. Em abril, vence o prazo de desincompatibilização, quando ministros que serão candidatos em 2018 terão de deixar os cargos. Isso envolve mais da metade do gabinete e as negociações para substituição tomarão tempo, diz Vidal. “O governo teria de votar a reforma logo na volta do recesso, pois depois ficará ainda mais difícil.”
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