Gestores de ativos que promovem ESG se beneficiam de um forte crescimento do carvão

Escrito por Natasha White e Antony Sguazzin. Exibido antes no Terminal Bloomberg.

À medida que uma das empresas de carvão mais rentáveis do mundo embarca num plano de expansão, investidores comprometidos com um futuro de baixas emissões de carbono ajudam a financiar seu crescimento.

Desde que foi desmembrada do conglomerado Anglo American Plc em meados de 2021, as ações da Thungela Resources Ltd. subiram quase 900%, superando a maioria das outras grandes empresas carboníferas. Agora, o diretor executivo July Ndlovu promete elevar a produção até pelo menos o fim da próxima década, já que a primeira aquisição da empresa desde que foi listada de forma independente lhe concede um controle acionário da Ensham, uma mina de carvão mineral na Austrália.

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Siphelele Mhlongo, analista de ações da Sanlam Investments, uma acionista da Thungela, acredita que as ações estão atualmente “sendo negociadas em uma avaliação extremamente depreciada”. Mas com o aumento da demanda da Ásia, o analista afirma que “a oferta de carvão térmico provavelmente será insuficiente” para os próximos anos.

Se a análise estiver correta, a expansão na produção de carvão da Thungela deve enriquecer um grupo de investidores que se comprometeu a reduzir seu financiamento de emissões de gases do efeito de estufa nas próximas décadas. Como, por exemplo, BlackRock Inc., abrdn Plc e State Street Corp., que fazem parte da maior coalizão de finanças climáticas do mundo, conhecida como Glasgow Financial Alliance for Net Zero.

O Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas e a Agência Internacional de Energia deixaram claro que não há espaço para a expansão da produção de carvão se o mundo quiser atingir emissões líquidas zero. Ao ignorar este alerta, corre-se o risco do aquecimento global aumentar para acima do limiar crítico de 1,5 ºC, além de ocorrer uma catástrofe climática.

“Seja ativo ou passivo, qualquer gestor de ativos que afirma levar a sério questões ambientais, sociais e de governança (ESG) deve exigir planos de transição confiáveis alinhados com a meta de 1,5 ºC para todos os investimentos relacionados ao carvão”, disse Peter Uhlenbruch, diretor de padrões do setor financeiro da ShareAction, uma organização sem fins lucrativos focada em questões ESG.

A BlackRock, que exclui a Thungela de seus fundos com gestão ativa e associados ao ESG, não quis comentar o porquê da produtora de carvão ter cerca de 2% de participação em seu portfólio passivo. A Vanguard Group, outra acionista da Thungela, deixou a GFANZ no fim do ano passado, observando que seu vasto negócio de restreamento índices não é compatível com as metas de emissões líquidas zero.

A Abrdn, que de acordo com dados compilados pela Bloomberg detém 2,8% da Thungela, “continua a interagir” com a produtora de carvão, segundo um porta-voz do membro da GFANZ. A Abrdn apoiou todas as resoluções apresentadas pela gestão da Thungela no ano passado, conforme mostram registros públicos.

“Como proprietária ativa e a fim de apoiar a empresa em seu desenvolvimento no âmbito de ESG, fornecemos nossas opiniões sobre as melhores práticas”, disse o porta-voz da abrdn. “Analisaremos o progresso da empresa no primeiro semestre de 2023.”

A State Street, que também se comprometeu com emissões líquidas zero e detém cerca de 1% de participação na Thungela, não quis comentar. A Schroders Plc, outra empresa membro da GFANZ, vendeu sua participação em julho. Um porta-voz da gestora de ativos não quis comentar o motivo da saída. A estatal Public Investment Corp., Ltd, que detém 25% de participação na Thungela, disse que está trabalhando em um plano de emissões líquidas zero, mas não quis comentar sobre o assunto.

Um porta-voz da Thungela disse que a empresa está “trabalhando ativamente” no desenvolvimento de um caminho para emissões líquidas zero até 2050. Segundo a empresa, a mina de carvão de Ensham “será incorporada no plano da Thungela de reduzir a intensidade do carbono nas operações existentes e será considerada nas metas intermediárias de redução de emissões da Thungela”. A intensidade de carbono — ao contrário de medidas absolutas — permite que uma empresa continue aumentando suas emissões conforme seus negócios crescem.

Alguns estudos afirmam ter encontrado evidências de que o comprometimento com o ESG pode produzir resultados. Porém, em última análise, há poucos dados concretos para sugerir que isto esteja ajudando a reduzir as emissões financiadas mundialmente. Cientistas estimam que a meta de 1,5 ºC está cada vez mais difícil de ser alcançada, e inclusive alertam que a temperatura da Terra pode estar a caminho de aumentar o dobro disso.

É uma desconexão que tem levado alguns participantes do setor financeiro a descartar completamente a teoria do comprometimento com o ESG. O gestor de fundos de hedge Chris Hohn parafraseou a ativista climática Greta Thunberg e criticou este compromisso apenas como “blá, blá, blá” corporativo.

Lara Cuvelier, uma ativista da organização ambiental sem fins lucrativos Reclaim Finance, disse que os gestores de ativos que afirmam ter como objetivo emissões líquidas zero “ainda possuem bilhões em empresas de carvão”. Ela afirma que o setor de investimentos não deveria ser autorizado a fazer alegações de compromisso sem definir metas claras e transparentes às quais as empresas devem ser responsabilizadas.

“O comprometimento a portas fechadas simplesmente não é suficiente”, disse ela.

Katrin Ganswindt, ativista de finanças da Urgewald, disse que o financiamento contínuo do carvão está minando as esperanças do planeta de alcançar a meta de 1,5 ºC.

“Enquanto os grandes investidores não se afastarem de empresas de combustíveis fósseis como a Thungela, que estão relutantes à transição, a meta de emissões líquidas zero nunca se concretizará”, disse ela.

(Michael Bloomberg, fundador da Bloomberg News, da empresa Bloomberg LP, é co-presidente da GFANZ).

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