Agitação em emergentes entra em nova fase com decisão do Fed

Por Natasha Doff, Sangwon Yoon e Stephen Kirkland, com a colaboração de Elena Popina.

Impeachments, demissões de ministros e aviões de guerra.

Como se os investidores em mercados emergentes já não tivessem o bastante com que se preocupar no momento em que o Federal Reserve está prestes a encerrar uma era de sete anos de taxas de juros quase zeradas, a turbulência política prejudicou as economias em desenvolvimento mais do que o normal nas últimas semanas.

O rand sul-africano oscilou bruscamente depois que o presidente Jacob Zuma nomeou um segundo ministro das Finanças em quatro dias, e as ações polonesas atingiram o nível mais baixo em seis anos em meio à reformulação política do novo governo. O Brasil está à beira do impeachment de sua presidente, e o impasse da Turquia com a Rússia por causa da derrubada de um avião desencadeou uma venda de ativos em lira.

“Os riscos políticos estão vindo à tona”, disse William Jackson, economista sênior para os mercados emergentes da Capital Economics em Londres. “O momento não poderia ser pior. Os países com riscos políticos excessivos provavelmente sofrerão um golpe duplo” se vier mais turbulência depois que o Fed aumentar os juros, disse ele.

Embora os investidores tenham se acostumado a ver os mercados emergentes sob pressão por causa do colapso dos preços das commodities e da perspectiva de taxas de juros mais elevadas nos EUA, esses choques domésticos são um lembrete de que os países em desenvolvimento também estão suscetíveis a riscos políticos e econômicos locais.

Estrategistas otimistas

As últimas turbulências surgiram bem quando os estrategistas de instituições como Bank of America e Goldman Sachs diziam que os mercados emergentes estavam caminhando para a recuperação após três anos de prejuízos. Os bancos sinalizaram um otimismo cauteloso no final do mês passado, explicando que suas esperanças não são um reflexo da melhora dos fundamentos; elas se devem ao fato de que a confiança para investimento está tão em baixa que até mesmo um incremento marginal seria suficiente para elevar os ativos.

Mas o sentimento otimista perdeu força na semana passada.

A África do Sul irritou investidores quando Zuma demitiu seu ministro das Finanças, no dia 9 de dezembro, e o substituiu por um parlamentar desconhecido. O rand caiu 9,6 por cento nesses cinco dias, rompendo pela primeira vez a marca de 16 por dólar. A moeda recuperou parte desses prejuízos na segunda-feira após a nomeação de um ex-ministro das Finanças para o cargo e apresentava pouca mudança nesta terça-feira, permanecendo em 15,1108 por dólar às 9h38 em Joanesburgo.

A pressa do partido Lei e Justiça, da Polônia, para levar adiante os planos de tributar os ativos bancários, flexibilizar as regras que restringem os gastos públicos e reformular a Corte Constitucional, responsável por investigar os políticos, desencadeou uma corrida para venda que empurrou o zloty ao nível mais baixo em relação ao euro em quase um ano no dia 14 de dezembro.

Instituições fortes

A imprevisibilidade sempre foi um dos principais riscos dos mercados emergentes, disse Viktor Szabo, que ajuda a gerenciar US$ 12 bilhões em dívidas de mercados emergentes para a Aberdeen Asset Management em Londres.

“Os investidores em mercados emergentes realmente deveriam prestar atenção na força das instituições. O problema surge quando essas instituições estão sendo desmanteladas”, como na Polônia, disse ele. Szabo disse que está pessimista em relação à Polônia e à África do Sul e otimista com Argentina e Rússia.

No Brasil, o real caiu 32 por cento neste ano, maior declínio entre 24 moedas de mercados emergentes. A presidente Dilma Rousseff está tendo dificuldades para conseguir apoio para as medidas que têm por objetivo reduzir o déficit e evitar novos cortes na classificação de crédito do país em meio à queda de popularidade da presidente e ao encolhimento da economia.

As moedas, ações e bonds dos mercados emergentes caminham para um terceiro ano de perdas porque a desaceleração na China está reduzindo a demanda por matérias-primas, enquanto as taxas de juros mais elevadas nos EUA poderiam desencadear saídas de capital. Os investidores estão a caminho de retirar US$ 540 bilhões dos países em desenvolvimento neste ano, primeira saída líquida de capital desde 1988, disse o Instituto de Finanças Internacionais em outubro.

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