Agricultura investe em wi-fi em busca de revolução digital

Por Tatiana Freitas e Fabiana Batista.

Os fazendeiros brasileiros precisam de wi-fi.

Com algumas das megafazendas mais extensas do mundo, o Brasil está atrasado em relação à revolução digital global rumo à chamada agricultura 4.0. E tudo pela simples falta de uma rede de comunicação rural viável. Agora, pelo menos uma fabricante de equipamentos agrícolas, que busca vender máquinas de alta tecnologia, está entrando em cena na tentativa de ajudar a construir uma cobertura sem fio.

A Deere & Co., com sede em Illinois, nos EUA, lançou há alguns meses no Brasil um programa para conectar os extensos campos agrícolas a uma rede de dados. A Deere fechou parceria com a empresa de telecomunicações Trópico para vender torres e antenas no interior do Brasil, onde o serviço de internet é praticamente inexistente. Outras fabricantes de equipamentos agrícolas estão buscando estratégias semelhantes. A AGCO, fabricante de tratores e outros equipamentos, estuda ligar seus equipamentos à nuvem por meio de satélite nos lugares onde não há sistema de telefonia celular disponível.

A ideia, em ambos os casos, é permitir que os administradores das fazendas monitorem o trabalho no campo remotamente e em tempo real, analisem dados e tomem decisões em momento oportuno em relação aos cronogramas de plantio e colheita.

Agricultura 4.0

Os fazendeiros pagarão pelas antenas. A Deere tem esperanças de que, uma vez conectados, os produtores demandarão mais tratores de última geração conectados em rede e outros equipamentos necessários para aproveitar ao máximo aquilo que ficou conhecido como agricultura 4.0.

“Queremos tentar fazer isso acontecer mais rapidamente”, disse Sam Allen, CEO da Deere, a maior produtora mundial de máquinas agrícolas, que transformou a agricultura de precisão em sua principal aposta, em entrevista à Bloomberg, em março deste ano.

A agricultura 4.0 se refere ao uso de tecnologia de GPS, big data e inteligência artificial para ampliar os rendimentos. Trata-se de um negócio já em franca expansão, com crescimento global anual projetado de 14 por cento até 2025, para US$ 10 bilhões. A falta de comunicação rural indica que a implementação está atrasada no Brasil.

Apesar de o principal cinturão agrícola do país muitas vezes ser chamado de “Califórnia brasileira”, suas conexões de celular e dados nos campos são tão fracas que simples conversas por celular são quase impossíveis, segundo Walter Maccheroni, gerente de inovação da São Martinho, uma das maiores exportadoras de açúcar do Brasil.

O Brasil é o maior exportador mundial de soja, café e açúcar graças às gigantescas fazendas instaladas em uma vasta extensão de selvas e planícies nas últimas décadas. Mas devido à falta de conectividade, os produtores não conseguem avaliar os dados do plantio e da colheita em tempo real.

A conexão plena em rede da indústria agrícola brasileira poderia se traduzir em ganhos de eficiência de US$ 5,5 bilhões a US$ 21,1 bilhões até 2025, segundo um estudo do McKinsey Global Institute mencionado citado em um relatório do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

As grandes fazendas estão se preparando para isso. A SLC Agrícola, que nesta safra vai cultivar 450.000 hectares com soja, milho e algodão, treinou profissionais para avaliar as informações que vêm do campo em tempo real, criando uma nova profissão: monitor de agricultura digital. A empresa também criou um comitê para assegurar as segurança das informações e avaliar propostas de soluções tecnológicas. Nos últimos dois anos, cerca de 300 empresas procuraram a companhia para oferecer algum tipo de tecnologia voltada ao campo, segundo Ronei Sana, coordenador de agricultura de precisão da SLC.

As usinas de cana do país também estão se preparando. Com uma frota de mais de 2 mil máquinas agrícolas, o grupo São Martinho está construindo uma rede de torres de transmissão para integrar as atividades de campo espalhadas em cerca de 300.000 hectares (740.000 acres) a um departamento de controle central. A empresa busca ganhar eficiência na medida que consegue, por exemplo, antecipar as necessidades de abastecimento de máquinas e problemas mecânicos, segundo Maccheroni.

A limitada cobertura de Internet nos campos levou outra gigante canavieira, a Raizen Energia SA, a criar suas próprias soluções para conectar campos de cana ao departamento central de controle de operações localizado a até 800 quilômetros de distância de sua unidade mais distante, segundo Fabio Mota, vice-presidente do centro de serviços compartilhados da empresa. Algumas áreas sem Internet estão ligadas usando um sistema de comunicação entre máquinas.

“Se contássemos apenas com os serviços de conexão oferecidos pelas empresas de telecomunicações, teríamos apenas 60% da área com alguma conexão”, disse Mota. “Mas esse percentual subiu para quase 100% porque criamos nossas próprias soluções”.

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