Por Birgit Jennen e Rainer Buergin.
A futura relação entre o Reino Unido e a União Europeia exige uma solução sob medida, mas o Reino Unido não poderá escolher as vantagens econômicas que quiser, disse o vice-ministro alemão das Relações Exteriores, Michael Roth.
A chanceler alemã Angela Merkel afirmou que a decisão dos eleitores britânicos de sair da UE é irrevogável, e Roth disse em entrevista à Bloomberg que não existe um modelo para lidar com a saída do Reino Unido. O que está claro é que o Reino Unido não pode esperar ter acesso ao mercado comum do bloco a menos que permita a livre circulação de trabalhadores, vigente em toda a UE, disse Roth, o ministro responsável por assuntos europeus dentro do governo alemão.
“Esta é uma situação única do ponto de vista histórico”, disse Roth na quarta-feira. “O Reino Unido é uma grande economia e foi membro da UE durante décadas. Sem dúvida chegaremos a um acordo sob medida entre a UE e o Reino Unido”. Ao mesmo tempo, ele disse que “não haverá qualquer escolha de vantagens”, repetindo uma frase dita por Merkel.
No momento em que as autoridades europeias tentam mapear o caminho a seguir, os comentários de Roth sugerem que as relações da UE com países de fora do bloco, como a Noruega e a Islândia, podem não servir de modelo para um tratado com o Reino Unido. Outra autoridade alemã, que pediu para não ser identificada discutindo deliberações do governo, expressou frustração pela falta de sinais de Londres e disse que o governo britânico pode estar subestimando a complexidade das negociações que enfrentará.
Interesses da UE
A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, prometeu respeitar o desejo do eleitorado que decidiu, em referendo no dia 23 de junho, tirar o país da UE. O acesso ao mercado comum afeta particularmente o setor de serviços financeiros do Reino Unido: os bancos britânicos estão preocupados em conservar o chamado “direito de passaporte”, que lhes permite negociar com clientes em toda a UE.
“Lamento a decisão do povo britânico, mas temos que aceitá-la” e ela é “irrevogável”, disse Merkel em entrevista publicada no website de seu partido na quinta-feira. “Agora precisamos negociar de acordo com nossos próprios interesses”.
Roth elaborou essa ideia e disse que “deve ficar claro que o livre acesso ao mercado interno só é possível se todas as quatro liberdades fundamentais forem respeitadas, inclusive, naturalmente, a livre circulação da mão-de-obra”.
Quase dois meses depois do referendo optando pelo Brexit, a equipe de May está avaliando o que deseja buscar nas negociações com a UE. Roth pediu que o governo britânico declare formalmente a saída do Reino Unido, a condição para o início das discussões, e que “apresente um plano”.
Merkel receberá o presidente da União Europeia, Donald Tusk, para conversar em uma mansão perto de Berlim nesta quinta-feira à noite a fim de se preparar para uma reunião com líderes de todos os países-membros da UE, exceto o Reino Unido, no dia 16 de setembro em Bratislava. Tusk, os líderes dos governos da UE e o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disseram que não há nada a negociar com o Reino Unido enquanto o governo de May não apresentar a notificação de saída da UE.
“Estamos vendo muita incerteza neste momento”, disse Roth. “Existe um entendimento fundamental na UE de que o governo britânico precisa chegar à clareza primeiro. Mas as coisas também não deveriam ser deixadas em banho-maria.”
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