Por Gerson Freitas Jr. e Vinícius Andrade.
As dúvidas quanto à concretização de um acordo entre BRF e Marfrig ajudaram a produtora de frangos a registrar a maior valorização entre as empresas do setor em todo o mundo nas últimas semanas.
Quando, no fim de maio, as gigantes do setor de alimentos surpreenderam o mercado com a notícia de que estavam estudando uma combinação de seus negócios, as ações da BRF amargaram uma forte queda. O recuo teve pouco a ver com a lógica segundo a qual, num processo de fusão e aquisição, os papéis do comprador caem e os da empresa adquirida, sobem. Investidores mostraram mais preocupação com a estrutura de controle da nova empresa e com a aparente escassez de sinergias entre a dona da marca Sadia e o frigorífico comandado por Marcos Molina, um negócio marcado por anos de resultados ruins em um setor de margens tipicamente mais apertadas.
Entretanto, superado o impacto inicial, as ações da BRF decolaram. Os papeis acumulam alta de 18%, o melhor desempenho entre companhias produtoras de carne monitoradas pela Bloomberg, desde que as conversas com a Marfrig se tornaram públicas. No mesmo período, a Marfrig caiu 2%.
O movimento é, ao menos em parte, sustentado pela avaliação de que a BRF enfrentará uma batalha difícil para convencer seus acionistas das vantagens da incorporação da Marfrig. Com isso, investidores se sentiram confortáveis para se concentrar no impacto que a epidemia de febre suína na China pode ter sobre as exportações da companhia.
“O mercado se tornou cético em relação a esse negócio”, disse Diana Stuhlberger, analista da Eleven Financial Research, que tem uma recomendação neutra para as ações da BRF. “Não o incorporei nas estimativas para BRF.”
A alta da BRF na bolsa também alterou a relação de valor entre as produtoras de carne, com a Marfrig sendo negociada no menor patamar desde o início de 2018 em relação à sua potencial compradora. Hoje, a BRF tem 87% do valor combinado das duas empresas, acima dos 85% anunciados como referência para uma possível transação.
A fusão entre BRF e Marfrig criaria a quarta maior empresa de carnes do mundo em receita, aumentando a diversificação geográfica e de produtos da BRF e permitindo que a empresa reduzisse sua dívida, uma das principais preocupações dos investidores.
“Os estudos sobre a possível operação com a Marfrig estão em andamento. A decisão final se a operação acontecerá ou não depende dessas avaliações mais aprofundadas e das discussões que ainda serão feitas no Conselho de Administração de ambas as empresas,” afirmou a BRF, em nota. “O importante é termos clareza que o objetivo estratégico de fortalecimento das duas empresas será atendido com a proposta de eventual fusão.”
A Marfrig não quis comentar.