Por Srinivasan Sivabalan.
Assim como um vírus à procura de um organismo para infectar, os juros mais altos nos EUA estão contagiando os mercados emergentes pelos locais de menor imunidade.
A mais longa sequência de perdas semanais para moedas de países em desenvolvimento é puxada por Turquia e Argentina — que têm os maiores déficits em conta corrente, as menores reservas cambiais e os índices de inflação mais elevados entre seus pares. Mas à medida que o sentimento do investidor azeda, os mercados emergentes parecem vulneráveis a perdas mais amplas.
A resistência dessa classe de ativos — que se recuperou de todas as crises que surgiram nos últimos dois anos — agora está em xeque. Os motivos estão listados abaixo.
Carry trade sai de cena
A tomada de empréstimos em dólares para investir em ativos denominados em moedas de países emergentes se tornou um mau passo no último mês. Com uma única exceção, as 23 principais taxas de câmbio de nações em desenvolvimento acompanhadas pela Bloomberg geraram perdas no chamado carry trade. Cinco registraram perdas de mais de 5 por cento.
Nesta semana, foi pior para Argentina e Turquia, dois países com taxas básicas de juros na casa de dois dígitos (40 por cento no caso da Argentina, a mais alta do mundo). Não foi suficiente para proteger os investidores da onda de vendas que derrubou as moedas desses países.
Fuga de capital
A desvalorização cambial é uma faca de dois gumes para o mercado acionário porque impulsiona os lucros e as ações de empresas exportadoras, mas corrói o retorno em dólar do investidor. É este último fator que parece dominar as atenções e o MSCI Emerging Markets Index amarga a sexta queda em sete semanas.
O ETF (fundo negociado em bolsa) dos EUA que acompanha o índice registrou saída de US$ 870 milhões nos primeiros quatro dias desta semana, o pior movimento desde a vitória de Donald Trump à Casa Branca.
Lucros ameaçados
Não somente os investidores ficaram pessimistas. Apesar da tendência de alta dos lucros das componentes do índice MSCI, os analistas baixaram as estimativas de ganhos nos próximos 12 meses para o menor nível desde fevereiro.
Prêmio de rendimento
No início de 2018, gestores de recursos começaram a torcer o nariz para títulos denominados em dólar emitidos por governos e empresas sediadas em países em desenvolvimento. As quedas se aprofundaram desde o princípio de abril e os rendimentos chegaram aos maiores patamares em mais de dois anos.
O prêmio de rendimento dos títulos de mercados emergentes sobre os papéis do Tesouro americano é o maior em 16 meses, em 3,33 pontos percentuais — exatamente 1 ponto a menos do que a máxima atingida após a inesperada depreciação da moeda chinesa, em 2015. Se os investidores começarem a exigir prêmio similar, os títulos podem perder ainda mais.
Vendas a descoberto
Investidores já se posicionam para ganhar com essa eventual queda. O total de posições vendidas no principal ETF dos EUA que acompanha títulos de nações emergentes é o maior em 14 meses. O fundo já perdeu US$ 1 bilhão em valor de mercado em 2018.
Barato para entrar
Mas nem tudo está perdido. O derretimento do peso argentino na quinta-feira e as quedas do peso mexicano e do real deixaram mais barata a entrada nesses mercados por investidores que operam com carry trade. O potencial de arbitragem de juros ajustado para oscilações esperadas na cotação chegou ao maior nível desde 2015 para moedas latino-americanas.
Isso significa que a recuperação dos mercados emergentes está nas mãos de caçadores de barganhas. O otimismo no longo prazo se baseia no crescimento superior desses países, na melhora da situação fiscal e na expansão da classe média.
Porém, a estratégia pode esperar. A maior preocupação do investidor agora é sobreviver ao mês.
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