Por David R. Baker.
No coração da região produtora de carvão dos Estados Unidos, uma nova e cavernosa usina de reciclagem está transformando o lixo em combustível com queima mais limpa do que o carvão, usando um processo inédito no país vindo da Europa.
Só não chame isso de “substituição” do carvão.
Em uma região que permanece ferozmente protetora de sua indústria de mineração em apuros, Frank Celli, diretor executivo da BioHiTech Global, pondera cuidadosamente suas palavras ao descrever o potencial da usina de US$ 33 milhões em Martinsburg, Virgínia Ocidental, aberta por sua empresa no mês passado.
“Não gostamos de pensar em nós mesmos como substitutos do carvão”, disse Celli em entrevista. “Gostamos de pensar em nós mesmos como um suplemento limpo para o carvão”.
A planta já tem seu primeiro cliente. Uma fábrica de cimento nas proximidades de propriedade da Argos USA concordou em comprar e queimar o combustível à base de lixo. Mas seu uso irá compensar apenas 30% do consumo de carvão da fábrica, disse Celli. A Agência Federal de Proteção Ambiental (Environmental Protection Agency) definiu esse limite de 30% para qualquer um dos clientes da nova planta, disse ele, até que a BioHitech possa coletar mais dados sobre seu desempenho.
Longa história
Derivar energia dos resíduos tem uma longa história, desde simplesmente queimar lixo até usá-lo como matéria-prima para combustível de aviação. A usina de Martinsburg usa um processo patenteado criado pela empresa de engenharia italiana Entsorga Italia e implantado em fábricas em toda a Europa.
Em um processo semelhante à compostagem, o lixo é colocado para secar em lotes dentro da instalação por 10 a 14 dias, enquanto o ar circula através dele e os micróbios quebram o material orgânico. A instalação então usa máquinas projetadas para peneirar vidro, metais e PVC. O que resta é triturado.
“Parece confete quando é feito”, disse Celli. Para cada tonelada de lixo que passa pela instalação, ele estima que 40 a 45% serão convertidos em combustível. E aí pode estar o verdadeiro apelo do projeto, mesmo no país de carvão.
Clint Hogbin passou 25 anos trabalhando na Autoridade de Resíduos Sólidos que atende Berkeley County, onde a fábrica está localizada. Durante esse tempo, ele disse, a população do condado cresceu, produzindo mais lixo que precisa ser descartado ou reciclado. Há apenas um aterro no condado e dois outros a cerca de 30 quilômetros de distância, na Pensilvânia. Abrir mais não é fácil.
Resistência Natural
“Há uma resistência natural às expansões dos aterros sanitários”, disse Hogbin.
A Entsorga se aproximou de funcionários do condado em 2009, logo após um estudo do local sobre as necessidades futuras de lixo recomendar a pesquisa de maneiras para recuperar parte do material. No final, a autoridade de resíduos arrendou 12 acres para a nova instalação. Hogbin diz que a tecnologia tem o potencial de mudar o jogo.