Este artigo foi elaborado pela equipe de dados alternativos da Bloomberg: Richard Lai, Andrew McNellis, Janine Perri, Joe Hung e Mike Ryan.
Bem-vindos e bem-vindas ao Alternative Data Insights, uma breve análise das tendências atuais do mercado a partir de dados alternativos, como transações de consumo dos EUA e analytics de tráfego de dados. Entenda melhor aqui como os dados alternativos podem oferecer aos analistas acesso a insights instantâneos sobre o desempenho das empresas e as tendências de consumo.
Em março de 2025, a confiança do consumidor dos EUA caiu para seu nível mais baixo em quatro anos, em meio a preocupações com preços em alta e expectativas sobre o impacto do aumento das tarifas sobre a economia. Quais as consequências dessa queda sobre as despesas de consumo?
Os analytics do Bloomberg Second Measure, que consideram bilhões de transações de cartões de crédito e débito dos consumidores norte-americanos, mostram que o crescimento geral observado nas despesas do consumidor dos EUA continua relativamente estável, com tendência de cerca de 1% de variação ano a ano em um intervalo de 28 dias a partir de 31 de março de 2025, em alinhamento com o crescimento das despesas observado ao longo de grande parte de 2024.
Há, no entanto, algumas dinâmicas a se observar nos fatores subjacentes que podem sinalizar o estresse do consumidor, mas também estão abertas a várias interpretações.
- Os gastos do consumidor continuam crescendo ano a ano. Esse crescimento, no entanto, parece estar mais orientado ao consumo de produtos básicos, e não a despesas discricionárias.
- É o valor médio de transação (VMT) que está impulsionando o crescimento, e não o número de transações. No período selecionado, o valor médio de transação (em dólares americanos) apresentou um crescimento recente pela primeira vez em dois anos. Este dado indica que, ou os consumidores estão comprando mais, ou estão adquirindo mercadorias de preço mais elevado num determinado estabelecimento comercial.
- Grandes varejistas ficam ainda maiores. Quase 35% das despesas de consumo acompanhadas pelo painel Bloomberg Second Measure são impulsionadas por cerca de dez gigantes do comércio, sendo a maior fatia pertencente à Walmart, que é, também, a empresa de varejo com o maior ganho percentual de participação em 2024.
- Walmart: tempestade à vista? Embora o desempenho da Walmart permaneça estável, dados recentes corroboram a observação do CEO de que os consumidores estão enfrentando dificuldades financeiras.
- A despesa dos segmentos de baixa renda está superando a dos segmentos mais ricos. Dados baseados em padrões de compra consistentes em redes de varejo de baixo preço e em lojas de perfil mais sofisticado, usados como indicativos, respectivamente, dos segmentos de menor e maior renda, mostram que, desde outubro de 2024, os gastos dos consumidores de baixa renda vêm avançando em ritmo mais forte.
O crescimento do consumo nos EUA foi impulsionado por despesas não discricionárias e cestas maiores
De acordo com o Bloomberg Second Measure Consumer Spend Index, o crescimento das despesas de consumo dos EUA variou cerca de +1% desde fevereiro de 2025, em linha com o ritmo de crescimento observado em boa parte de 2024. Os assinantes do Terminal Bloomberg podem acessar esse índice pela função World Economic Analyzer (ECAN<GO>).
As maiores contribuições para o crescimento das despesas de consumo dos EUA vêm do setor de não discricionárias
A categoria que mais contribuiu para o crescimento do consumo nos Estados Unidos foi a das lojas de produtos gerais (que inclui empresas como Walmart e Costco). No geral, embora seja difícil categorizar com precisão as compras efetuadas pelos consumidores no amplo quadro das despesas de consumo dos EUA, os analytics de dados de consumo norte-americanos indicam que o crescimento é impulsionado pela classe de produtos gerais, sugerindo maior tendência em direção às despesas não discricionárias.
Por outro lado, os setores de viagens, móveis e vestuário apresentaram declínio ano a ano. Exceções a essa regra são os segmentos de restaurantes e produtos esportivos, que mostraram crescimento.
Tamanho da cesta registra resultado positivo pela primeira vez em dois anos
O crescimento das despesas de consumo dos EUA foi alavancado pelo VMT, que se tornou positivo no início de 2025 pela primeira vez em dois anos. Um VMT mais alto indica que os consumidores estão comprando mais produtos, ou produtos mais caros, de determinado comerciante. Enquanto isso, o volume das transações observadas continua a aumentar, embora a uma taxa ligeiramente reduzida. As possíveis razões para isso incluem acumulação de estoques, redução de compras por comparação de preços ou aumento geral de preços.
Concentração de mercado: os grandes ficam ainda maiores
Quase 35% das despesas de consumo observadas nos EUA são movimentadas por cerca de 10 grandes empresas do varejo. A maior parte do crescimento desse grupo tem sido alavancada pelo Walmart, que, nos três primeiros meses de 2025, respondeu por 13,6% da cesta de consumo monitorada nos EUA. O Walmart também é a rede de varejo com a maior variação na participação dos gastos, com um aumento de 0,6% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os outros maiores players – Amazon, Costco e as três maiores redes de supermercados (Kroger, Publix, HEB) – também aumentaram sua participação nos nas despesas de consumo dos Estados Unidos, no âmbito da cesta analisada. Enquanto isso, empresas importantes, como Lowe’s, Home Depot e Target, perderam participação no mercado.
Nuvens escuras no horizonte?
Ainda sobre o Walmart, o CEO da empresa recentemente observou que os consumidores norte-americanos estão “mostrando sinais de estresse”, já que os preços dos alimentos continuam altos. De fato, a cadência dos gastos do consumidor no Walmart, onde a maior parte das despesas acontece aos sábados, mostra que a lacuna entre o primeiro e o último sábado do mês foi mais ampla em janeiro, fevereiro e março de 2025, em comparação com os mesmos períodos entre 2022 e 2024. O último sábado contabilizou 91% das despesas observadas no primeiro sábado, enquanto que, historicamente, os números normalmente permanecem os mesmos.
Parece haver uma contradição, porém, quando se observam os padrões de compra segundo a renda. Com base nos dados do Bloomberg Second Measure Transaction Level Data Product (TLDP), a análise de segmentos de consumo em lojas de descontos (como Aldi e T.J. Maxx, usados como proxy para a baixa renda) em comparação com varejistas de alto padrão (como Whole Foods e lululemon, representando a alta renda) mostra que os gastos dos consumidores de baixa renda vêm superando os dos consumidores de alta renda desde aproximadamente outubro de 2024. É importante observar, no entanto, que o aumento das despesas dos clientes de baixa renda não implica necessariamente que essa despesa seja direcionada a bens discricionários.
Gerando insights com dados alternativos
Quer explorar insights a partir de dados alternativos e melhorar suas estratégias de investimento? As soluções de Alternative Data da Bloomberg oferecem acesso contínuo a bases de dados alternativos confiáveis e robustas. Nossas soluções de dados incluem:
- ALTD<GO>, uma ferramenta de dados alternativos que oferece aos usuários do Bloomberg Terminal uma análise prévia sobre performances empresariais, lado a lado com dados tradicionais do mercado, pesquisa de brokers, estimativas e notícias. ALTD <GO> inclui os dados de consumo da Bloomberg Second Measure e os analytics de tráfego de dados da Placer.ai. Os dados são publicados com atraso de 7 dias, com histórico a partir de 1º de janeiro de 2017.
- Feeds de dados agregados da Bloomberg Second Measure via DATA <GO>, que oferecem cobertura ampliada, menor tempo de resposta e informações mais detalhadas. Os dados são publicados com atraso de 3 dias, com histórico a partir de 1º de janeiro de 2017.
- Feeds de dados granulares da Bloomberg Second Measure, que oferecem flexibilidade máxima para realizar análises, incluindo a criação de painéis personalizados e normalizações, segmentos personalizados e rótulos para empresas adicionais. Os dados são publicados com atraso de 2 dias, com histórico a partir de 1º de janeiro de 2016.
- Bloomberg Second Measure (BSM) U.S. Consumer Spend Index, que oferece um panorama completo, em tempo quase real, das despesas de consumo por meio da solução World Economic Analyzer (ECAN<GO>) do Terminal Bloomberg. O índice é e atualizado diariamente, com atraso de 7 dias.
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