Alvaro Vaqueiro do BBVA: Aprenda com as crises

“Nas crises, o ser humano se torna mais humano.”

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Alvaro Vaqueiro

Head of Corporate & Investment Banking | BBVA, Mexico

Em 1995, Álvaro Vaqueiro retornou ao México, sua terra natal, após concluir seu mestrado na Universidade de Stanford e encontrou o país imerso em uma das piores crises econômicas de sua história.

Mesmo assim, começou a procurar emprego e conseguiu uma posição no Citibank, o único banco estrangeiro com operações no México naquele momento. “E foi assim que entrei para o mundo financeiro no setor bancário”, diz o atual diretor geral da área de Corporate e Investment Banking do BBVA México.

Em plena crise, Vaqueiro foi em busca e obteve uma colocação profissional e aprendeu que, mesmo nos momentos mais difíceis, sempre há oportunidades.

“Por pior que seja a situação que enfrentamos, sempre temos que tentar ver o lado positivo. Toda crise provoca alguma mudança porque tentamos compreender o que não deu certo e por quais razões, e como podemos corrigir a situação. Nas crises, nos tornamos mais humanos”.

As crises sempre impactam o mundo financeiro

Ao longo de sua carreira, Vaqueiro conviveu com muitas crises, como o ataque às Torres Gêmeas de 11 de setembro de 2001 em Nova York.

“Em março daquele ano, comecei a trabalhar no Merrill Lynch, cuja sede ficava no World Financial Center, bem perto do World Trade Center. Na manhã dos atentados, eu tinha acabado de chegar no escritório quando, a menos de 15 quarteirões de onde eu estava, as torres vieram ao chão. Foi um verdadeiro choque, e a primeira preocupação que senti foi com minha família, que também vivia na cidade”, recorda.

O caos daquelas primeiras horas se prolongou pelas próximas oito ou nove semanas e a empresa em que trabalhava mudou para um escritório em Nova Jérsei, pois as operações de mercado e tesouraria não podiam ser paralisadas.

Naquele momento, o mercado financeiro foi fortemente impactado, e os cortes de pessoal chegaram também à empresa em que trabalhava. Na sua área, por exemplo, restaram apenas três pessoas para fazer o trabalho que antes era realizado por nove membros na equipe.

“Foram momentos muito difíceis e vi muitos amigos ficarem sem trabalho. A grande lição que aprendi é que precisamos estar sempre preparados mentalmente, pois a reação que temos no curto prazo é o que vai nos ajudar depois”, ressalta.

E foi assim que passou pela crise de 2008 e está enfrentando a crise atual, causada pela COVID-19. Segundo Álvaro, “não importa onde a crise comece —o setor financeiro sempre acaba envolvido ou sofrendo impactos”.

Por este motivo, para definir os negócios no mundo financeiro e seu próprio trabalho, este executivo tem apenas uma palavra: adaptação.

É preciso estar disposto a mudar os planos

Para Vaqueiro, precisamos estar constantemente dispostos a mudar nossos planos. Por exemplo, ele diz que tinha plena convicção de que queria estudar engenharia industrial até que, nos últimos semestres da faculdade, começou a trabalhar em um fundo de investimentos e os planos de ingressar em uma fábrica mudaram completamente.

“É muito bom ter um plano, mas o mundo muda tão rapidamente que é preciso deixar espaço para fazer mudanças. Nunca devemos nos limitar aos nossos planos originais”, sugere.

Hoje, como empregador, sabe que não se deve esperar que os jovens que ingressam no mercado financeiro já tenham conhecimento e experiência, mas seu conselho é para que não tenham medo do desconhecido.

“Se você faz parte de uma boa equipe, em uma boa empresa e tem um bom gestor, esta liderança irá apoiar seu processo de aprendizagem e compreenderá que você é capaz de fazer o seu trabalho”, diz Álvaro.

Quando começou a trabalhar no mercado financeiro, Vaqueiro diz que ele mesmo não tinha muita clareza sobre o que teria que fazer, mas um dos primeiros chefes fez um comentário muito oportuno: “Não se preocupe —você está aqui para aprender”.

Assim, recomenda às novas gerações que sejam proativas. “Independente de experiência, a proatividade sempre se destaca e desperta a atenção dos líderes”, diz Vaqueiro.

O executivo enfatiza que o recurso humano continua sendo o principal ativo do setor financeiro, mas nos últimos anos a gestão deste recurso vem mudando.

Enquanto as gerações anteriores se interessavam em ter financiamento para efetuar a compra de um carro ou uma casa, hoje esses benefícios não são tão atrativos para a retenção de talentos.

“Os jovens que estão chegando ao mercado de trabalho hoje não pensam como as pessoas da minha geração, nem têm os mesmos valores e motivações. Como líderes, temos que compreender e tirar proveito dessa realidade”, diz.

Faça o que gosta — isto será notado

Para Vaqueiro —um aficionado de mountain bike, motocross e golfe —a maior satisfação é quando um cliente lhe agradece pelo serviço e pela dedicação que recebeu da sua equipe e, ainda mais, quando o cliente o considera como um sócio e não apenas como um prestador de serviços.

“Se você não levantar todos os dias pensando ‘hoje vou fazer algo de que realmente gosto’, será muito difícil desempenhar bem o seu trabalho e isto vai acabar transparecendo para o cliente”, explica.

Além disso, é muito importante ter certeza de que os valores da empresa na qual você trabalha estão alinhados com suas crenças. “Isto fará com que você tenha sucesso em sua carreira”, afirma.

Para tomar as melhores decisões, é fundamental estar sempre bem informado sobre todas as mudanças em curso, em todas as áreas. Desta forma, é possível perceber coisas que os outros não conseguem enxergar à primeira vista.

“Às vezes, você sai para comer algo com os colegas do trabalho depois do fechamento dos mercados e a cabeça está a mil pensando nos problemas, câmbio se desvalorizando, bolsas em queda etc. Mas, você olha em volta e parece que as pessoas estão vivendo em outro planeta, como se nada estivesse acontecendo —não estão enxergando o mesmo desastre que você”, diz.

“Faz uns 15 ou 20 anos que sempre tenho uma tela do Terminal Bloomberg na minha frente, o tempo todo. Agora, em razão do home office, está na minha sala de jantar, mas também sempre acesso a Bloomberg no iPad ou no celular”, relata.

Admirador de Warren Buffett, CEO da Berkshire Hathaway, Vaqueiro acredita que a simplicidade no trabalho é essencial para o sucesso.

“Hoje percebo que gostamos de complicar a vida nas empresas; gostamos de criar processos, etc. Mas, de forma geral, podemos resolver melhor os problemas se buscarmos a simplicidade na solução”.

Além disto, recomenda ser corajoso e não ter medo de dar ideias —mesmo aquelas que pareçam absurdas em um primeiro momento poderão ser parte da solução de algum problema no futuro.

Isenção de opinião: Este texto é de responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião da Bloomberg.


A Bloomberg convidou os “<GO> GETTERS” do mercado financeiro na América Latina a compartilhar os insights mais significativos de suas carreiras, descrevendo os sucessos alcançados e os desafios que enfrentaram no percurso, tanto como testemunhas do desenvolvimento deste ambiente acelerado quanto como contribuintes ativos de sua evolução, criando novas ferramentas, compartilhando melhores práticas e inspirando mudanças.

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