América Latina pode se fortalecer com Brexit

Por André Soliani e Paula Sambo, com a colaboração de Eduardo Thomson, Isabella Cota e Isabel Gottlieb.

Após a reação ao risco do Brexit diminuir, as maiores economias da América Latina podem obter ganhos líquidos com os investidores a caça de rendimento e os bancos centrais do mundo mantendo ou aumentando o estímulo em meio à preocupação de que o crescimento está diminuindo. Laços limitados ao Reino Unido devem ajudar, disseram analistas e investidores.

“O primeiro efeito deve ser os preços dos ativos mais fracos, mas o impacto econômico ao longo do tempo é mínimo”, disse Mark Bower, diretor de ME na Bienville, com sede em Nova York. “Os efeitos potenciais benéficos para o Brasil e a Argentina são moedas mais fracas em relação ao dólar e um Fed que não se move este ano”, disse ele em 24 de junho em entrevista por e-mail.

No lado comercial, a exposição da América Latina ao Reino Unido e a zona do euro é muito baixa, disse Juan Carlos Rodado, diretor de pesquisas cambiais, renda fixa e macro para a América Latina da Natixis. Exposição bancária é um pouco maior, embora a liquidez vá ajudar a compensar isso, disse ele.

“É claramente uma oportunidade de compra para a América Latina porque a região é menos exposta ao Reino Unido e a zona euro do que a Europa Central”, disse Rodado.

México, Colômbia, Peru e Chile – as economias que mais crescem na América Latina – provavelmente irão ter um desempenho melhor, disse Rafael Elias-Lineros, chefe de renda fixa em ME da Cantor Fitzgerald em Nova York. “Elas vão estar lá onde o crescimento econômico ainda será encontrado”, escreveu ele em 24 de junho em nota aos clientes. Se o Reino Unido e a Europa entrarem em recessão, as economias da América Latina terão margens ainda maiores, escreveu ele.

O México, cuja moeda atingiu o ponto mais baixo em relação ao dólar em 27 de junho, tem uma exposição muito limitada a Europa e exporta mais de 90% de seus produtos para Nafta, disse Elias-Lineros.

Um viés positivo para ativos de risco cujas consequências foram minimizadas pelo Brexit, enquanto a abundante liquidez global serve de suporte a curto prazo para os preços dos ativos e ajudou os preços a se recuperarem depois de uma venda inicial solicitada pelo Brexit, de acordo com Siobhan Morden, chefe de pesquisa de renda fixa da Nomura, cujas escolhas principais são Argentina e Brasil.

“A interpretação inicial do mercado é de que a fraca demanda global e a abundante liquidez global reforce o apetite para alto rendimento, com a América Latina continuando sendo mais barata entre os emergentes”, escreveu Morden em uma nota aos clientes em 27 de junho “não há dúvida alguma de que no curto prazo com menos contágio financeiro e os bancos centrais mais dovish devem mitigar as consequências deste risco”, escreveu ela.

O maior risco para a região será o impacto que o crescimento global mais lento pode ter sobre os preços das commodities, de acordo com Morden. Economias de commodities, como Peru, Chile e Colômbia terão desempenho menor que o México, diz Elias-Linero.

“Os preços dos metais e do petróleo são suscetíveis a cair com menor demanda global”, disse ele. Bradford Jones, que administra estoques em Sagil Asset Management em Londres, disse que a queda de 24 de junho de ações poderia oferecer aos investidores uma oportunidade de compra.

“As ações da América Latina irão continuar sofrendo mais com a aversão ao risco do que com um ponto de vista fundamental, embora o aumento do preço do ouro possa beneficiar os produtores no México e Peru”, disse Jones em uma entrevista de 24 de junho. “Nós estamos olhando para tudo isso como uma oportunidade de compra, mas definitivamente não hoje”, disse ele.

Agende uma demo.