Por Anooja Debnath e Sid Verma.
Nem mesmo os rendimentos elevados estão ajudando o dólar.
A moeda americana encerra o ano com perda de 11 por cento em relação ao euro, mesmo após três elevações nos juros pelo Federal Reserve (o banco central dos EUA), que ampliaram a diferença entre os rendimentos dos títulos públicos dos EUA e da Alemanha com vencimento em dois anos para o maior nível em quase duas décadas. Investidores que há muito tempo se orientavam pelas taxas de juros agora preferem focar na perspectiva macroeconômica, que sinaliza aceleração da economia europeia ao mesmo tempo em que o ciclo econômico nos EUA começa a perder vigor.
O mercado talvez precise de muito mais persuasão para cessar o massacre da moeda americana. A expectativa é que o euro prolongue os ganhos em relação ao dólar no ano que vem, embora não se espere que o Banco Central Europeu abandone a política de juros próximos de zero até 2019.
“A barreira para o dólar ter força sustentada vai aumentar”, disse Lee Hardman, estrategista de câmbio do MUFG em Londres. “O Fed precisaria embarcar em um ritmo mais rápido de acréscimos nos juros para desafiar mais seriamente nossa visão pessimista para o dólar.”
A postura agressiva do Fed e a postura branda do BCE não impressionam.
O euro cambaleou apenas momentaneamente após a reiteração, em 13 de dezembro, da perspectiva de três aumentos nos juros nos EUA em 2018.
“Neste ano ficou muito claro que o Fed vem subindo juros e o BCE vem ampliando os estímulos quantitativos e que o diferencial de juros favorece os EUA”, disse Alessio de Longis, gestor de recursos da OppenheimerFunds, em Nova York, que supervisiona mais de US$ 246 bilhões globalmente. “Ainda assim, o euro se apreciou. A relação entre moedas e diferenciais de juros tem sido muito fraca.”
No entanto, o total em títulos em circulação com rendimento abaixo de zero chega a US$ 8,5 trilhões, segundo a Bloomberg Barclays Global Indexes. Na tentativa de atingir metas de retorno, os investidores podem eventualmente decidir que os 2,5 pontos percentuais adicionais proporcionados pelos títulos do Tesouro americano são atrativo suficiente para comprar ativos denominados em dólar.
Por ora, os fundamentos falam mais alto. Após um longo período em marcha lenta e combatendo a deflação, a zona do euro caminha para a mais forte expansão anual em uma década.
“O euro vem seguindo o reposicionamento do sentimento no continente europeu, o sentimento positivo em relação ao ambiente político e de crescimento na Europa”, afirmou Longis.
O alargamento do diferencial de juros foi associado a apostas na desvalorização da moeda única há um ano, mas agora predomina o quadro inverso. No mercado de futuros, o número de posições compradas de fundos de hedge e especuladores superava o de posições vendidas em aproximadamente 86.000 contratos na semana encerrada em 19 de dezembro, de acordo com a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA (CFTC). No final de 2016, o saldo líquido era favorável às posições vendidas em quase 70.000 contratos.
O diferencial de juros talvez cause perdas para o dólar. Os investidores ignoraram a ampliação da diferença em favor do dólar em 2017 e podem usar o spread como justificativa para vender o dólar quando o diferencial encolher, no momento em que o BCE seguir os passos do Fed no aperto monetário.
Isso “deve reduzir a atratividade do dólar em relação ao euro em termos de carregamento”, explicou Bastien Drut, estrategista da maior gestora de recursos da Europa, a Amundi Asset Management, com 1,4 trilhão de euros (US$ 1,7 trilhão) em ativos. Enquanto isso, a normalização da política monetária vai direcionar capital para as bolsas europeias, oferecendo “impulso adicional” ao euro, segundo ele.
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