Por Josue Leonel.
O governo paga um preço por concentrar seu foco na reforma da Previdência. Para o investidor otimista com o país, o retorno de suas apostas passa a estar condicionada quase que exclusivamente a uma reforma cuja aprovação não depende só do governo. A alta recente do dólar, que teve desempenho pior do que outras moedas após o carnaval, dá mostras da elevada sensibilidade do mercado sobre o tema. Qualquer possibilidade de atraso na proposta é vista como motivo de preocupação.
A prioridade da reforma da Previdência foi estabelecida pelo ministro Paulo Guedes desde a campanha eleitoral. A estratégia de concentrar os esforços do governo em um tema tem a vantagem de evitar perda do sentido de urgência, que poderia ocorrer caso o governo tocasse outras medidas de impacto. Privatizações ou leilões de concessão aceleradas desde já, por exemplo, poderiam antecipar, ao mesmo parcialmente, o impacto dos investimentos na economia. O mercado se animaria, mas o Congresso poderia relaxar com a ideia de que a reforma não seria tão urgente assim.
O foco total na Previdência não foi adotado por outros governos reformistas, como os de Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer. FHC começou a acelerar as privatizações antes de sua fracassada tentativa de aprovar a idade mínima, em 1998, uma derrota que reduziu o otimismo, mas não foi fatal para seu governo. Temer também não conseguiu mudar a Previdência, mas obteve êxito em passar no Congresso o teto de gastos e a reforma trabalhista – antes de ser atingido pela delação da JBS.
No governo Bolsonaro, além da reforma da Previdência, não se fala em outras ações de grande impacto na economia no curto prazo. O leilão da cessão onerosa de petróleo, que poderia arrecadar cerca de R$ 100 bilhões, ficou para outubro, quando, espera-se no mercado, a reforma da Previdência deverá já estar aprovada ao menos na Câmara.
Como a reforma depende de um prazo que só o Congresso pode definir, o presidente terá o desafio de manter, neste período, sua popularidade para usar como cacife nas negociações da proposta. O risco é que a falta de boas notícias para o mercado mantenha a economia parada, minando o capital político do governo antes mesmo de ser aprovada a reforma na qual jogou todas as suas fichas.
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