Por Stefan Nicola.
Eylin Tabbert, usuária do Twitter, atacou Hillary Clinton regularmente durante a campanha presidencial dos EUA. Poucas horas depois que um caminhão atropelou uma multidão em um mercado de Natal em Berlim, ela voltou sua atenção para um novo alvo: Angela Merkel.
“Sangue nas mãos dela: fronteiras abertas de Merkel são culpadas por mortes em atentado perpetrado por terroristas refugiados”, publicou Tabbert no Twitter, sobre uma foto manipulada que mostra a chanceler encharcada de sangue junto a uma imagem do caminhão usado no atentado.
Desde o atentado da segunda-feira à noite, a página do Facebook de Merkel tem sido inundada por centenas de comentários negativos, muitos escritos por contas do Facebook com muito poucos amigos visíveis ou nenhum. No Twitter, dezenas de usuários que apoiaram Donald Trump agora estão publicando textos e imagens idênticos contra Merkel, fato que sugere que eles são contas robóticas – os chamados bots – organizando um ataque maior.
“Há muitas evidências que sugerem que Merkel é objeto de uma tentativa de ataque em massa”, disse Simon Hegelich, cientista político da Universidade Técnica de Munique que estuda a manipulação de redes sociais. “Muitas contas que eram obviamente pró-Trump agora estão entrando no debate anti-Merkel.”
Munições
O massacre do caminhão que matou 12 pessoas e feriu cerca de 50 deu nova munição aos opositores de Merkel e de sua política imigratória. Sua decisão de deixar entrar mais de um milhão de refugiados desde o começo de 2015 já polarizou a sociedade alemã e mais questionamentos sobre a segurança poderiam comprometer suas chances de ganhar um quarto mandato nas eleições federais do segundo semestre do ano que vem.
Enquanto Merkel alerta sobre a eleição alemã mais polêmica em anos, as redes sociais dão aos seus críticos a chance de empregarem as mesmas táticas que, segundo os opositores a Trump, ajudaram o magnata a chegar à Casa Branca. Hegelich disse que os ataques online contra Merkel apresentam padrões similares aos das operações psicológicas, as psyops, utilizadas pelos governos para influenciar a opinião pública em seu favor.
‘Os mortos de Merkel’
À direita de Merkel no espectro político alemão surge o partido Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão), que quando foi criado, em 2013, fez campanha contra os resgates da zona do euro, mas levantou voo no ano passado, quando mudou o foco para a imigração. A ascensão do AfD tem sido acompanhada de manifestações de rua com cartazes e slogans anti-Merkel e o partido tem enviado mensagens contra ela aos seus mais de 300.000 seguidores no Facebook. Marcus Pretzell, presidente regional do AfD, publicou no Twitter que as vítimas de Berlim eram “os mortos de Merkel”.
Os efeitos do ataque na capital na época do Natal poderiam dar um impulso temporário ao AfD, segundo Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg Bank. Mas é improvável que eles ajudem as forças esquerdistas que, segundo sugerem as pesquisas, são a única alternativa viável a Merkel, devido ao sistema de votação proporcional e à tendência da Alemanha a formar governos de coalizão.
A Bloomberg News entrou em contato com Eylin Tabbert no Twitter em busca de comentários sobre suas postagens. Não houve resposta imediata.
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