Aos 81, bilionário Abilio Diniz ainda tem algo a provar

Por Fabiola Moura.

Abilio Diniz, o polêmico bilionário brasileiro que perdeu o comando da gigantesca rede de supermercados fundada por seu pai, se prepara para a próxima grande batalha.

Aos 81 anos, Abilio está no centro de um novo imbróglio depois que a BRF, a produtora de aves e alimentos de cujo conselho é presidente desde 2013, registrou uma série de prejuízos sem precedentes. Os maiores investidores, incluindo antigos aliados de Abilio, agora tentam demitir o magnata do varejo e subtituir o restante do conselho da BRF.

“Compartilho da insatisfação de todos os acionistas”, mas “discordo das ações, da forma e do momento em que estão se manifestando”, disse Abilio, em comunicado. “Meu papel como chairman é, acima de tudo, defender os interesses da BRF.”

O que está em jogo não é apenas o futuro da empresa avaliada em US$ 7,4 bilhões. Para Abilio, é uma questão pessoal. Com uma fortuna de US$ 3,4 bilhões, mais de 1 milhão de seguidores no Facebook e duas autobiografias best-sellers que são um misto de autoajuda e guia de gestão, Abilio construiu cuidadosamente uma reputação como um dos gigantes dos negócios no Brasil. Uma nova saída forçada do comando de um conselho depois que, em 2013, ele teve de deixar o cargo de chairman vitalício que ocupava na Companhia Brasileira de Distribuição, empresa de varejo conhecida como GPA, pode manchar o que pode ser um dos capítulos finais de sua carreira de décadas.

“Ele errou a mão”, disse Adeodato Volpi Netto, chefe de mercados de capitais da Eleven Financial Research em São Paulo. “Um ícone não é o suficiente na condução de um business de altíssima complexidade” como é a BRF.

Abilio, que foi trabalhar com o pai depois da faculdade e transformou a padaria da família na maior empresa de varejo do Brasil, se concentrou nos rumos da BRF após deixar o GPA na sequência de uma briga bastante pública com a rede francesa de supermercados Casino Guichard-Perrachon. No livro “Novos caminhos, novas escolhas”, de 2016, Abilio classificou o contrato plurianual que acabou passando o controle do GPA ao Casino como o pior erro de sua vida.

Abilio deu a volta por cima quando foi nomeado presidente do conselho da BRF com o apoio do maior fundo de pensão do Brasil. Ele prometeu elevar o preço das ações com uma reestruturação que deixaria a produtora de alimentos mais enxuta e eficiente. Sob sua supervisão, a BRF substituiu toda a diretoria duas vezes em meio às dificuldades geradas pela pior recessão da história do Brasil e pela Operação Carne Fraca, um escândalo nacional de segurança alimentar. As ações da empresa caíram 35 por cento em dólares desde que ele assumiu a presidência do conselho, tornando-se a empresa de pior desempenho entre seus pares internacionais.

A última gota para os acionistas foi quando a BRF divulgou, em 22 de fevereiro, um surpreendente prejuízo de R$ 784 milhões (US$ 242 milhões) no quarto trimestre. Os analistas esperavam, em média, um lucro de R$ 150 milhões. O prejuízo anual de R$ 1,13 bilhão foi o pior dos 25 anos de história da empresa.

Menos de 48 horas depois, os fundos de pensão Previ e Petros, que juntos detêm 22 por cento da BRF, enviaram uma carta pedindo a Abilio a convocação de uma assembleia de acionistas para votar a substituição dos integrantes do conselho, incluindo ele próprio. Uma reunião do conselho foi convocada para segunda-feira.

A assessoria de imprensa de Abilio preferiu não comentar a matéria.

Embora a culpa pelas dificuldades da BRF não possa ser totalmente atribuída a Abilio, sua falta de compreensão a respeito das complexidades do negócio de commodities e as diferenças em relação ao varejo contribuíram, disse Volpi Netto.

“Eles contrataram o melhor craque do futebol pro time de vôlei”, disse Volpi Netto. “O que importa se o cara é o Pelé? Ele não sabe jogar vôlei.”

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