Por Josue Leonel, Patricia Lara e Vinícius Andrade com a colaboração de Davison Santana e Rafael Mendes.
Enquanto a Selic se encaminha para uma mínima histórica, a diferença entre as taxas de juros mais curtas e longas testa níveis máximos. Em meio a um quadro externo de aperto monetário nos EUA e fortalecimento do dólar, internamente as incertezas com o atraso da reforma da Previdência e as eleições de 2018 são apontadas como o fermento para a ponta longa dos juros. A tendência para as taxas gera debate, com alguns vendo exagero nos níveis atuais e outros apostando em mais pressão à medida que o ano da sucessão presidencial se aproxima.
“O mercado pode estar exagerando, mas existe um prêmio pela incerteza com o cenário eleitoral e o quadro fiscal”, diz Patrícia Pereira, gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos. Segundo ela, havia a expectativa de uma mudança na Previdência após o presidente se defender das duas denúncias, mas a reforma ficou para escanteio.
O prêmio que o mercado vem exigindo nas taxas mais longas reflete de um lado o componente externo desfavorável para emergentes e, de outro, a redução das esperanças de uma reforma da Previdência à medida que o calendário eleitoral se aproxima, diz Rafael Ihara, economista da Ethica Asset Management. “Apesar de muitos falarem que não esperavam a reforma, havia alguma expectativa de que, após a segunda denúncia ser barrada, se conseguiria alguma coisa mínima. Mas o que entrou em jogo foi a eleição.”
Para o economista da Ethica Asset, existe uma “verdade inconveniente” das pesquisas eleitorais para o mercado. Por mais que alguns analistas políticos digam que as eleições ainda estão distantes e por isso as pesquisas não são informativas, Ihara observa que as pesquisas mostram um “sinal de populismo”, o que seria negativo para um país com “situação fiscal gravíssima”.
Os fatores que impulsionam o aumento da inclinação da curva de juros são a incerteza eleitoral e em relação à agenda econômica do novo governo, mais especificamente, a parte fiscal, diz Antônio Madeira, economista-chefe da MCM Consultores Associados. “Quadro ainda não indica reversão desse movimento de alta para inclinação da curva de juros”, diz. Ele acredita que os prêmios tendem a se reduzir caso ocorra definição de um candidato reformista.
Para Paulo Nepomuceno, estrategista de renda fixa da Coinvalores, a curva de juros deve ficar empinada por mais algum tempo, o que só será resolvido quando o mercado souber que a política fiscal vai ser controlada.
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