Por Anna Hirtenstein com a colaboração de Vanessa Dezem.
O governo brasileiro quer que os títulos verdes financiem uma significativa expansão das exportações agrícolas.
De acordo com Roberto Jaguaribe, presidente da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), o Brasil subutiliza uma área de aproximadamente 190 milhões de hectares, ou quatro vezes o tamanho da França. Os títulos verdes podem ajudar a financiar a infraestrutura necessária para ampliar a oferta de alimentos no mercado global e com respeito ao meio ambiente.
“Nenhum outro país do mundo tem as condições que o Brasil tem para a oferta agrícola”, afirmou Jaguaribe durante evento promovido pela embaixada brasileira em Londres. “E queremos fazer isso de modo muito sustentável, alimentando o mundo.”
Os títulos verdes podem contribuir para melhorar a sustentabilidade da agricultura brasileira, ao enfatizar regras contra o desmatamento ilegal e a degradação do solo. O mercado de valores mobiliários com perfil ecológico, que sequer existia há uma década, movimentou US$ 95 bilhões no ano passado. Segundo estimativa da Bloomberg New Energy Finance, a emissão desses papéis chegará a US$ 130 bilhões em 2017.
“Achamos que quase todos os projetos que temos são completamente alinhados com o financiamento verde”, disse Jaguaribe, que já foi embaixador do Brasil no Reino Unido e na China. Os títulos verdes não serão a “principal fonte” de financiamento para a expansão da atividade agrícola, mas são considerados “cada vez mais relevantes”, ele disse, sem especificar uma quantia.
Emissores brasileiros já ofertaram aproximadamente US$ 3 bilhões em títulos verdes e podem vender um volume recorde de US$ 5 bilhões neste ano. O País vem investindo em logística para distribuir produtos agrícolas. Um exemplo é a Ferrogrão, projeto ferroviário de US$ 4,1 bilhões que visa estimular as exportações de soja.
Grande produtor
“Os títulos verdes são uma forma de financiar projetos sem usar dinheiro dos contribuintes”, explicou Sean Kidney, presidente da Climate Bond Initiative, organização que promove esses papéis. Os instrumentos financeiros podem aproximar investidores internacionais em busca de rendimento e regiões do Brasil que precisam financiar projetos de infraestrutura, segundo ele.
O Brasil é grande produtor mundial de soja, carne bovina e açúcar. O perfil de sustentabilidade é corroborado por exigências de que os fazendeiros mantenham 20 por cento a 80 por cento de suas terras preservadas, de acordo com Jaguaribe.
Para ele, empresas dos setores de agronegócio, transporte e saneamento básico são potenciais emissoras de títulos verdes. Também há planos para construir ferrovias, consideradas meio de transporte mais sustentável porque há menos derrubada de árvores do que em obras de construção de rodovias.
“É um meio de transporte eficiente e uma abordagem com baixa emissão de poluentes, com investimento verde, e ajuda a diminuir o desmatamento”, disse Isabella Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente.
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