Por Paula Sambo e Julia Leite com a colaboração de Gerson Freitas Jr., Fabiola Moura, Sabrina Valle e Aline Oyamada.
Um assunto frequente nas rodas empresariais brasileiras hoje é recuperação.
É claro que o que constitui uma melhora em uma área paralisada por um escândalo de corrupção e vários anos de recessão pode parecer pouco, ou até mesmo algo curioso, para quem olha de fora.
Mas parece que os investidores querem virar a página, e as empresas estão se empenhando nisso. A Petrobras, gigante estatal do petróleo no centro da Operação Lava Jato, concordou em pagar US$ 2,95 bilhões para compensar investidores dos EUA que perderam dinheiro devido à crise; a operadora de telefonia Oi está encerrando uma batalha de 18 meses com os credores, comprometendo-se a um plano de reestruturação da dívida de US$ 19 bilhões; e a empresa controladora do frigorífico JBS está em negociações para chegar a um novo acordo de leniência a fim de resolver pendências legais contra a empresa.
Acontecimentos desse tipo, quando considerados em conjunto, ajudam a transmitir a ideia que algumas das maiores empresas do Brasil estão finalmente deixando os escândalos para trás. As ações estão batendo novos recordes quase diariamente, a confiança empresarial é a mais alta desde 2014 e, para melhorar ainda mais o clima animado, a tão esperada recuperação econômica começa a se materializar.
“Este ano será melhor do que 2017”, disse Jorge Simino, diretor de investimentos da Funcesp, o maior fundo de pensão do Brasil financiado por empresas privadas. “As empresas estão muito mais ajustadas depois de terem enxugado quadro, tornando-se mais eficientes, fortalecendo suas finanças e completando o liability management . Elas vão ganhar mais dinheiro.”
O acordo da Petrobras no caso dos EUA foi o mais recente de uma série de acordos bilionários feitos por empresas brasileiras que tentam deixar para trás seu envolvimento na Lava Jato, investigação sobre o pagamento de propinas em troca de contratos de construção. A Petrobras e a gigante da construção Odebrecht, que estavam no centro da investigação, pagaram US$ 6,5 bilhões em multas e compensação de investidores nos EUA. O valor não inclui os acordos feitos nos países latino-americanos onde a Odebrecht admitiu ter pago subornos.
A Petrobras é o melhor exemplo de uma recuperação bem-sucedida, de acordo com Henrique Morato, analista de crédito da Aberdeen Asset Management em Londres. As mudanças na diretoria da empresa, a venda de ativos e o plano de negócios reconquistaram os investidores, e as ações quadruplicaram em relação as baixas registradas em 2016.
Muitas coisas ainda podem dar errado na maior economia da América Latina. Políticos como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci continuam presos e poderiam negociar acordos de delação premiada que coloquem mais empresas em problemas. O governo continua tentando obter apoio suficiente para aprovar a reforma da Previdência no Congresso e, se não conseguir, isso poderia render mais um rebaixamento soberano para o Brasil.
Além disso, há eleições gerais. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, amplamente repudiado pelos investidores, lidera as pesquisas iniciais enquanto recorre de uma condenação por corrupção que poderia impedi-lo de concorrer. Jair Bolsonaro, em segundo lugar nas pesquisas, não se opõe tanto à agenda de reformas do governo atual quanto o ex-presidente, mas sua política econômica é desconhecida. Faltando cerca de nove meses para a eleição, os candidatos vistos como favoráveis ao mercado, como o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, reúnem menos de 10 por cento das intenções de voto.
Otimistas, como Will Landers, diretor da BlackRock em Nova York, não se deixam intimidar. Segundo eles, os fundamentos fortes devem bastar para que o País suporte o caos da eleição em meio ao impulso dos lucros.
“As empresas brasileiras estão em ótima forma”, disse Landers, acrescentando que o Ibovespa poderia retornar até 30 por cento em dólares neste ano, se tudo correr bem. “Os balanços estão relativamente limpos, as commodities estão ajudando, os bancos estão muito bem capitalizados, os mercados consumidores estão se beneficiando. Podemos manter um portfólio um pouco mais agressivo.”
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